Moxie: A luta que está (muito) longe de acabar
Moxie, a nova longa-metragem da Netflix baseada no romance de 2018 de mesmo nome, foi lançada no dia 3 de março deste ano e já está a dar que falar (calma, apenas por bons motivos!).
Infelizmente, foi também em Londres, na noite de 3 de março, que desapareceu, enquanto voltava para casa, Sarah Everard, de 33 anos. O seu corpo apareceu já sem vida no dia 10 de março. O número crescente de crimes de ódio cometidos contra a mulher vai ao encontro da temática de Moxie e, por isso, aliado ao facto de ser muitíssimo importante espalhar esta mensagem, não haveria altura mais pertinente para o abordar.
Dirigido por Amy Poehler, que também faz parte do elenco, o filme aborda um dos temas mais atuais e, felizmente, importantes. Portanto, toda a atenção, apreço e carinho que está a receber é totalmente merecido.
Não querendo revelar grandes detalhes desta belíssima comédia dramática, a história passa-se num típico liceu americano, onde reinam o machismo, o sexismo e a toxicidade (embora estas três palavrinhas que andam sempre juntas sirvam para descrever todos os liceus por esse mundo fora). A personagem principal, Vivian (Hadley Robinson), após vivenciar e assistir a diversos comportamentos machistas, sexistas e tóxicos, inicia uma revolução no liceu, inspirando-se na sua mãe (Amy Poehler), que fora uma adolescente irreverente e defensora dos seus ideais na sua época. São também de destacar as personagens Lucy Hernandez (Alycia Pascual-Peña) e Seth Acosta (Nico Hiraga), cruciais para o desenrolar da história. Na minha opinião, estes dois atores ganham o título de melhor atuação.
E perguntam vocês: “Mas o que é que este filme tem de diferente de todos os outros filmes adolescentes que já vi na Netflix?”. Eu respondo com a maior confiança de sempre: tudo!
Ao contrário da maioria, Moxie aborda temas importantíssimos como o assédio, a descredibilização da vítima, mansplaining (se não sabem o que é, toca a “googlar”, pois tenho a certeza de que, sendo raparigas, já passaram por isto alguma vez na vossa vida. Sendo rapazes, muito provavelmente e infelizmente já o fizeram), o movimento e a luta feminista, entre muitos outros temas igualmente importantes.
Ao longo do filme é fácil encontrar várias situações que nos deixam, enquanto mulheres, desconfortáveis. Não consigo deixar de referir o toque indesejado que recorrentemente experienciamos e que está muito bem retratado. Várias são as vezes em que é feita a distinção entre rapazes e raparigas: no desporto, onde o futebol feminino é completamente posto de lado, no dress code da escola que apenas se aplica às raparigas.
Moxie é um daqueles filmes tão necessários que dá vontade de o enviar em formato DVD para a casa de toda a gente. É que, no final do dia, o que se passa no filme em nada difere daquilo que se passa também no nosso país, na nossa escola, na nossa universidade e, por vezes, na nossa própria casa. Acredito que ao longo do filme muita gente sentiu que não estava sozinha e isto é a única coisa que nos reconforta no meio deste enorme problema.
Resumindo: por favor, vejam este filme. Não só pelo fator entretenimento, mas também pelo fator educação, pela empatia que tem de existir, pela luta feminista que não pode acabar e pela força que este filme nos dá para nunca desistir e sempre resistir.
As situações retratadas no filme acontecem todos os dias a demasiadas mulheres. Sarah Everard foi mais uma das que não ficaram para contar a história e para dar mais força a esta luta. O principal suspeito do crime cometido contra ela é um polícia. Ou seja, já nada nem ninguém faz com que as mulheres se sintam seguras. Ninguém nos protege, ninguém nos ajuda, todos são uma ameaça.
Não poderia ficar indiferente a este triste acontecimento no mês marcado pela celebração do Dia da Mulher. Aquele dia em que nos oferecem rosas e chocolates, mas nunca respeito. Não poderia não falar do filme Moxie sem falar de Sarah. Cabe-nos a nós alertar e educar sempre que conseguirmos. Escrevo isto com lágrimas nos olhos, com a dor do presente, mas com esperança daquilo que o futuro trará de bom. Irei sempre lutar para que mais nenhuma menina/mulher passe por aquilo que eu e tantas outras passamos desde o dia em que nascemos.
Artigo redigido por Filipa Amaro
Artigo revisto por Miguel Tomás
Fonte da imagem de destaque: Netflix
AUTORIA
Quase ingressou no curso de cinema aquando do início da sua jornada no ensino superior, porém, à última hora, decidiu que afinal queria enveredar pelo mundo do jornalismo. Veio da área dos números, mas após a sua entrada na ESCS Magazine - que tomou como um desafio - descobriu um gosto imenso pela escrita. Agora, enquanto editora da Secção de 7ª Arte, ambiciona proporcionar o conforto que sentiu quando entrou na Magazine a todos aqueles que, tal como ela, são apaixonados por cinema.