O brilhantismo de Phoebe Waller-Bridge
“Odeio que me perguntem como é ser mulher nesta indústria”. Phoebe Waller- Bridge é uma força imparável que está totalmente preparada para virar a indústria de Hollywood de cabeça para baixo, enquanto usa um icónico macacão preto. É uma atriz, escritora e produtora inglesa que tem vindo a conquistar todos aqueles que veem o seu trabalho.
Embora tenha conseguido um lugar na Trinity College, em Dublin, para estudar Inglês, optou por estudar drama na Royal Academy of Dramatic Art, em Londres. Começou a carreira como atriz de teatro, em 2005, no Soho Theatre e apresentou-se pela primeira vez como atriz na série Doctors, em 2009.
Phoebe, em conversa com James Wright para a revista So it Goes, mostra a sua posição sobre o papel da mulher na área em que decidiu trabalhar: “Eu só posso falar da minha experiência pessoal, que me faz crer que ser uma mulher nesta indústria é muito exaustivo por causa da m*rda do vestidos e da m*rda da maquilhagem e do trabalho acrescido de ser “só” uma mulher e ter de corresponder com tanta coisa além de simplesmente só fazer o meu trabalho. É o cinismo à volta do trabalho das mulheres a ser aglomerado e depois descrito como a definição do género em sim. É frustrante.”
Em 2019, o The Guardian apontou as 100 melhores séries do século XXI e duas das criações de Phoebe fazem parte dessa escolha. Fleabag e Killing Eve, pessoalmente, também pertencem à minha lista de séries que se pudesse voltava a ver pela primeira vez.
Fleabag destaca-se pela originalidade. É uma adaptação de uma peça de teatro que Phoebe apresentou ao vivo e que, assim como a série, também teve uma ótima receção por parte do público. Escrita e protagonizada pela própria, Fleabag – que também dá nome à personagem principal – tem uma vida repleta de frustrações emocionais, profissionais e sexuais, enquanto, simultaneamente, tenta ultrapassar a morte da mãe e da melhor amiga. Ao contrário de outras sitcoms, diferencia-se por um aspeto singular: a quebra da “quarta parede”. As interações da personagem de Waller-Bridge fazem-se para lá do ecrã, criando uma relação de cumplicidade com o espectador. Fleabag recorre a nós, espectadores, para fazer comentários, para brincar com muitas das situações e, de certo modo, para nos dar a oportunidade de entrar no cérebro dela ao longo das duas temporadas. Une-se a estes momentos a nova personagem da segunda temporada, o “hot priest”, interpretado por Andrew Scott. O relacionamento entre ele e Fleabag é sexy e moralmente questionável, é de partir o coração e, francamente, nota-se obviamente que foi escrito por uma mulher.
Outro dos talentos da escrita de Waller-Bridge são os relacionamentos femininos, seja entre amigas, amantes ou família. Killing Eve pode ser caracterizada como uma série de “trama tradicionalmente masculino” e que, neste caso, é protagonizada por duas personagens femininas, que claramente fogem a essa premissa. Eve Polastri (Sandra Oh) é uma das mais inteligentes agentes dos serviços de segurança, mas sente-se entediada com o trabalho de escritório que não realiza as suas fantasias de ser uma espiã. Por outro lado, Villanelle (Jodie Comer) é uma assassina talentosa, que se apega aos luxos que o seu trabalho violento lhe proporciona. Estas duas mulheres ferozes, igualmente obcecadas uma pela outra, vão enfrentar-se num jogo épico de “gato e rato”, derrubando as barreiras do típico thriller.
Phoebe Waller-Bridge, em duas séries completamente diferentes, consegue criar personagens femininas extraordinárias. Através da sua escrita humorística, introduz comentários comoventes sobre a experiência feminina, criando personagens únicas e subestimadas.
Os monólogos que escreve e protagoniza são sempre fantásticos e responsáveis por cativar todos os que o ouvem, como é o caso de Fleabag e do icónico monólogo do Saturday Night Live (SNL).
A escritora de 37 anos está ativamente a tentar mudar a maneira de pensar da indústria de Hollywood. Sabe precisamente o que é preciso para o futuro e traz corajosamente novas personagens e ideias que estão a provar ser uma mudança de ritmo necessária e bem-vinda. Phoebe também está a mostrar que há um leque de histórias originais que devem ser contadas, não apenas de mulheres, mas de uma variedade de minorias na indústria. O espectador quer cada vez mais ver histórias humanas, e o sucesso estrondoso de Fleabag e Killing Eve são a prova de que Waller-Bridge está a mostrar uma nova visão daquilo que é preciso ser feito.
Fonte da capa: Allure
Artigo revisto por Sofia Santos
AUTORIA
A Mariana, estudante de jornalismo, nunca pensou que a sua vida iria tomar este rumo. Mas, recentemente, descobriu a sua paixão pela escrita e pela comunicação. Aventurou-se na escs magazine para sair da sua zona de conforto e atingir todos os seus objetivos. Curiosa e observadora acredita que este é o lugar certo para ela!