Pão de Açúcar, Afonso Reis Cabral – Review
Livros vencedores de prémios literários, normalmente, não me atraem, porque acho sempre que são demasiado sérios.
Contudo, quando Pão de Açúcar ganhou o prémio Saramago 2019, o título chamou-me a atenção e decidi tentar entender de que se tratava a história. Li algumas reviews de outras pessoas que já tinham lido o livro e decidi dar-lhe uma chance.
Baseado numa história real, mas com adições de ficção, o livro trata o assassinato da transexual Gilberta Salce Júnior, em 2016, por um grupo de 14 jovens, com não mais de 13 anos, residentes da Oficina de São José, casa de acolhimento de jovens em risco, no Porto.
O livro segue, por grande parte do enredo, o dia a dia destes rapazes, a sua vida na instituição, os confrontos com os guardas da oficina e idas ao café Pão de Açúcar, bem como outros acontecimentos que contribuem para o desfecho trágico desta história.
Numa das suas incursões às “zonas sujas da cidade”, como o autor lhes chama, Rafa encontra um prédio abandonado e, fascinado pelo mesmo, debate-se acerca de quem deve partilhar esta descoberta – com os amigos ou se deve guardá-la para si.
Depois de alguma deliberação decide partilhar a descoberta com Samuel e Nélson, os seus companheiros na oficina.
Os três amigos passam a sair regularmente da casa de acolhimento para se refugiarem neste prédio, onde Samuel, o criativo do grupo, passa horas a desenhar a paisagem.
Num dos dias em que os três rapazes estão no prédio, conhecem Gilberta, mulher transexual que ali vive numa espécie de barraca e que trabalha num dos bares da cidade. Os três jovens acabam por conversar um pouco com Gilberta e ficam a saber que esta está doente.
A partir desse dia passam a ir ter com Gilberta regularmente, levando-lhe comida e conversando com ela sobre diversos assuntos da vida de cada um. Rafa desenvolve uma relação especial de amizade com Gilberta e passa a ir ter com ela sozinho e os dois vão-se aproximando.
Contudo, num dos dias em que os três rapazes iam sair para ir, mais uma vez, ter com Gilberta, já quase no final do livro, Fábio, o “líder” do outro grupo da instituição, pergunta aos três rapazes onde têm ido com tanta frequência, e o grupo insiste em acompanhá-los.
Quando chegam ao prédio e o grupo de Fábio se apercebe de que Gilberta é transexual, começa a agredi-la e a insultá-la e atiça os outros rapazes a fazerem o mesmo. Apenas Rafa não participa neste ato de violência, apesar de também não intervir para ajudar Gilberta, que implora aos rapazes que parem.
Quando os rapazes se apercebem de que Gilberta perdeu a consciência, pensam que a mataram e decidem, sem verificar os sinais vitais da transexual, atirá-la a um poço ali perto.
No final do livro, Samuel desaparece, demonstrando ter ficado muito perturbado com aquilo que o grupo fez. O livro termina sem que fiquemos a saber o que aconteceu aos rapazes. Contudo, num anexo adicionado pelo autor, são-nos dados exemplos de publicações de jornal acerca do julgamento dos jovens, que, pela sua idade, são condenados a acompanhamento educativo e internamento em casas de correção durante períodos que variam entre 11 a 13 meses em regime aberto e semiaberto.
O autor revela ainda que a Oficina de São José foi encerrada no seguimento do caso e que vai ser construído um prédio no seu lugar.
Por fim, achei que a história do livro é interessante e com certeza me deu vontade de pesquisar mais sobre o caso e entender quais os factos verídicos e aqueles que foram ficcionados. Porém, e apesar de ter gostado da escrita de Afonso, achei o livro um pouco lento, sem grandes desenvolvimentos durante grande parte do enredo e com personagens com pouca profundidade no que toca a personalidade.
Adicionalmente, desiludiu-me o facto de grande parte dos acontecimentos se passarem nas últimas 50 páginas e de não serem demonstrados aspectos como o julgamento dos jovens, apesar de me ter agradado a nota do autor no final da obra com notícias acerca do caso.
De qualquer forma, esta é apenas a minha opinião e aconselho a que, se quiserem e se tiverem ficado com algum interesse, leiam o livro e tirem as vossas próprias conclusões.
Até à próxima! Boas leituras e permaneçam em casa!
Artigo revisto por Rita Serra
AUTORIA
Olá! Sou do 3.º ano de Relações Públicas e Comunicação Empresarial e faço parte da Capital há um ano e meio. Nas pausas do estudo aquilo que mais gosto de fazer é ler, ouvir música e perder horas a fio a ver todo o tipo de vídeos no Youtube.