Gambito de Dama: Realidade a preto e branco
Escuridão e um bater na porta, segundos depois emerge duma banheira uma rapariga aflita. É deste modo tão vulnerável que nos é apresentada Beth Harmon.
Gambito de Dama foi um dos sucessos inesperados da Netflix. Uma minissérie sobre xadrez, inspirada no livro com o mesmo nome, publicado em 1983, por Walter Tevis. Este escritor sofreu com a toxicodependência durante a juventude, algo que inspirou a história de Beth.
Este fenómeno pode ser explicado, porque Gambito de Dama vai muito além de um tabuleiro. Consegue retratar de uma forma crua, a preto e branco, a realidade de uma criança que perdeu tudo e a sua ascensão. Esta acaba perdida num orfanato rígido e religioso, nos anos 50, onde nasce a sua paixão prodigiosa pelo xadrez e o seu vício por medicamentos.
Beth, dona de uma genialidade arrepiante, aprende perspicazmente a mover-se dentro do tabuleiro, mas é quando a realidade transcende o rei, a rainha e o cavalo que muitas das suas batalhas têm lugar. Estas retratam temas como o crescimento de criança a adulta, o bullying, o machismo, a toxicodependência, o alcoolismo e a saúde mental.
A previsibilidade foi o que a atraiu para o jogo, mas a competitividade foi o que a fez ficar. Foi também esta sua caraterística que lhe permitiu o sucesso, contra todas as expetativas, num mundo dominado por homens.
Esta é a história de um génio que é uma menina. Uma menina que encontrou conforto em 54 quadrados. Uma menina que se torna numa mulher de mente e língua afiadas. Também é uma história de amor, família e amizades que surgem de formas inesperadas.
Mas, afinal, o que quer dizer “Gambito de Dama”? No xadrez é uma jogada de abertura, em que o jogador inicialmente sacrifica as peças para depois obter uma posição positiva. Nada poderia descrever melhor Beth Harmon: abdica de tudo por um xeque-mate.
Artigo revisto por Adriana Alves
Fonte da foto de capa: Netflix
AUTORIA
A Matilde sempre sonhou em ser jornalista. Isto depois de ter desistido das suas aspirações de astronauta do jardim de infância, por estar sempre na lua. É apaixonada por histórias independente do formato onde estas estejam. Procurou a ESCS Magazine para contar algumas das suas. É licenciada em Ciências da Comunicação, e atualmente frequenta o mestrado de Jornalismo da ESCS.