Heróis entre páginas
Um assassinato a sangue frio, suspense, personagens marcantes e uma reviravolta imprevisível. Estes são alguns dos ingredientes para a criação de um thriller policial de tirar o fôlego a qualquer leitor.
A emblemática autora britânica, com cerca de 300 livros publicados, Agata May Clarissa Miller, conhecida mundialmente como Agata Christy, é considerada a maior referência deste género literário, pois foi quem deu os primeiros passos dentro deste estilo de livros, desbravando caminho para os autores vindouros.
Agata, entre inúmeras outras qualidades como escritora, é detentora de um legado que inspira qualquer personagem detetive dos tempos modernos. Esse legado tem nome e chama-se Hercule Poirot. O famoso investigador belga dá vida a cerca de 40 obras da autora, obtendo tanto reconhecimento como a sua criadora.
Com o passar dos tempos, novos autores surgiram, cada um com as suas criações. Karin Slaughter, Charlie Donlea e Tess Gerritsen são apenas alguns dos nomes que fazem parte do mundo contemporâneo dos thrillers policiais.
Série Will Trent (Karin Slaughter)
Will Trent, um talentoso agente especial do GBI (Georgia Bureau of Investigation), caracteriza-se pelo seu forte sentido analítico, pela sua empatia e por uma peculiaridade que o distingue de outras personagens destes universos, pois Will tem dislexia.Esta personagem forte já marcou presença em dez obras da escritora norte-americana, sendo Tríptico a primeira obra desta série (2006) e A esposa silenciosa a última a ser publicada até ao momento (2020).
Karin Slaughter é conhecida pela sua forma extremamente detalhada de descrever as cenas mais trágicas e brutais dos seus livros, tentando transmitir ao leitor as emoções vividas pelas personagens da melhor forma possível.
Um tópico, abundantemente, abordado pela autora ao longo das suas obras é a violência contra as mulheres. Numa entrevista dada ao blog Gottamentor, a escritora de 51 anos, natural do estado da Geórgia, destaca: “Quando comecei a escrever, tomei a decisão de escrever da forma mais realista possível, porque isso era muito importante para mim. Achei que, principalmente, na área da violência contra a mulher, a voz que contava esse tipo de histórias era, predominantemente, masculina, e eu queria trazer uma perspetiva feminina e falar sobre como é complexo. Por melhor que os homens escrevam sobre algumas coisas, as mulheres conseguem trazer uma perspetiva, inegavelmente, diferente ao tratar deste tema”.
Série Rory Moore/Lane Phillips (Charlie Donlea)
Rory é uma investigadora forense de excelência. Uma especialista em casos arquivados e considerados insolúveis. Rory distingue-se pelos seus métodos distintos de reconstituição dos casos, de modo a estabelecer uma ligação subconsciente com as vítimas. Algumas das suas mais impressionantes habilidades de investigação tornam-se ainda mais aguçadas graças ao seu grau de autismo, o que lhe oferece uma capacidade de insight invejável. Apesar dos seus problemas de ansiedade e de socialização, a personagem, criada por Charlie Donlea, consegue usar as adversidades a seu favor e desempenhar as suas funções de forma excecional.
O autor, que divide a sua vida entre a escrita das suas obras e a oftalmologia, apenas lançou seis livros até ao momento, sendo que dois destes contam com a participação de Rory Moore: Uma mulher na escuridão e Nunca saia sozinho (2019 e 2020, respetivamente).Um fã assumido de documentários criminais, numa entrevista exclusiva ao blog Vai Lendo, em 2018, Donlea atribui à curiosidade do ser humano a responsabilidade pelo sucesso deste género literário. Para o escritor, nascido em Chicago, os thrillers mexem com a mente dos leitores, principalmente quando dizem respeito a casos não resolvidos: “Eu acho que os crimes são tão populares porque muitos dos casos não são resolvidos, despertando o interesse das pessoas. Elas querem ler os livros, ver os documentários para saber o que aconteceu e, felizmente, a ficção dá-me a possibilidade de determinar um final. Nos Estados Unidos, especialmente, os jornais estão cheios de casos reais que não foram resolvidos e viraram um mistério. Os mistérios atiçam a curiosidade das pessoas. Todos os meus livros partem para esse lado da curiosidade”.
Série Rizzoli/Isles (Tess Gerritsen)
Jane Rizzoli é a única mulher no departamento de homicídios da polícia de Boston, e esse facto coloca-lhe um fardo acrescido em mãos. É uma personagem irreverente, corajosa e implacável. Procura sempre ir à luta pelos seus direitos, pois tem a noção de que está inserida num meio com tendências machistas.
Do outro lado temos Maura Isles, uma brilhante médica legista e melhor amiga de Jane. As duas formam uma dupla perfeita, trabalhando em conjunto para a resolução dos casos mais macabros que acontecem na cidade.A série teve início em 2001 com o livro O cirurgião, um dos mais aclamados pela crítica, sendo Segredos de sangue o último a ser publicado dentro deste universo, em 2017, somando um total de 12 livros.
Gerritsen formou-se em medicina, trabalho que era o seu principal sustento. Até que, após o nascimento dos seus filhos, começou a escrever ficção. Com o crescente retorno financeiro que a escrita lhe proporcionava, a autora norte-americana abdicou da sua carreira na medicina para se focar na escrita a tempo inteiro.
Em entrevista ao blog Pensamentos do Joshua, em 2013, a escritora de 68 anos afirmou: “A escrita trouxe-me muitas oportunidades para viajar, para aprender sobre novos temas e para contar histórias. Por escrever sobre diferentes temas, eu visitei a NASA, viajei para o Egito e assisti a uma múmia egípcia receber uma tomografia computadorizada, estudei o comportamento dos leopardos e muitas outras coisas!”
Uns mais veteranos, outros mais recentes. O mundo da literatura tem espaço para todos os que nele querem ingressar, seja como leitores ou como autores. Como em qualquer género, não existe uma fórmula certa de sucesso para cozinhar um thriller best-seller.
Apesar de tudo, Tess Gerritsen pontua: “Deve haver uma personagem que nos preocupa. Sem isso, o livro falhou”.
Fonte da capa: Luísa Montez
Artigo revisto por Ana Damázio
AUTORIA
Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.