As Origens de Alex Michaelides
Normalmente, os primeiros livros a serem lançados por autores não costumam ser sucessos imediatos. As primeiras obras têm tendência para ser uma intensa procura de um estilo, de uma identidade, de uma essência própria do escritor, “gatinhando” pelo terreno sinuoso da literatura.
No entanto, se há regra, há exceção. Uma dessas exceções chama-se Alex Michaelides.
Alex é o autor do sucesso estrondoso A Paciente Silenciosa (The Silent Patient – 2019), livro que possui um dos plot twists mais inesperado da atualidade, e de As Musas (The Maidens – 2021), a sua obra mais recente. A Paciente Silenciosa lançou o autor britânico para a ribalta, vendendo milhões de cópias e permanecendo por mais de um ano na lista dos mais vendidos do New York Times.
Para entender algumas das emoções sentidas pelo autor, ao longo da sua carreira, e das motivações que o levaram a escrever, entrámos em contacto com Alex para nos responder a algumas perguntas.
O sonho de um dia escrever um livro sempre foi algo almejado desde criança. Desde pequeno que se lembra de escrever pequenas histórias, indícios de que algo maior estaria por vir no futuro. Até que, aos 13 anos, após beber um pouco de inspiração do cálice da rainha dos livros de mistério (Agatha Christie), a vontade de escrever algo dentro desse estilo começou a borbulhar na sua mente. “Eu, primeiramente, quis escrever um romance, assim que comecei a ler Agatha Christie. Por volta dos 13 anos, apaixonei-me pelas histórias de detetives e decidi que um dia eu tentaria escrever algo assim”, relembra Alex.
Apesar da sua ambição, não se sentia preparado para algo tão complexo como escrever um livro, devido à sua tenra idade – “pensei que não teria experiência de vida suficiente para escrever um livro e não voltei a tentar durante 20 anos, mas as minhas ideias acabaram por ficar todo este tempo a incubar na minha cabeça.”
Michaelides nasceu no Chipre e é filho de mãe inglesa e pai grego. Como tal, a mitologia grega é algo bastante latente nas suas obras em diferentes vertentes – “Eu cresci no Chipre e a ilha é um lugar que está bastante emerso na mitologia grega. Cresci a aprender as tragédias e mitos gregos na escola e sou muito grato por ter tido essa experiência. As histórias são extremamente ricas e acabam por me dar várias ideias”.
Contudo, com tantas personalidades sonantes da antiguidade grega, Alex destaca: “Eurípides é o meu favorito, pois as personagens que ele criou eram incrivelmente complexas e fascinantes. É difícil acreditar que ele cresceu num mundo pré-psicológico. Ele é uma fonte constante de inspiração para mim.”
O autor estudou literatura inglesa na Universidade de Cambridge e tirou o mestrado em escrita de argumentos para filmes no American Film Institute, em Los Angeles. Após terminar os estudos, Alex começou a sua carreira de argumentista de filmes, porém, a escrita e a produção de filmes não se mostrava próspera.“Eu senti-me perto de desistir, já que cada filme que fiz era pior do que o anterior. É uma experiência difícil ser roteirista de filmes, pois tu és a pessoa menos importante e tens o teu trabalho constantemente reescrito sem o teu consentimento” – desabafa – “Então, antes de desistir, decidi que, finalmente, iria em frente e escreveria aquele romance que adiei por 20 anos. Estou muito feliz por ter tomado essa decisão.”
Como se costuma dizer, fecha-se uma porta e abre-se uma janela. O abandono da sua carreira como argumentista não poderia resultar em algo melhor. A história que tanto carburou na sua cabeça por duas décadas foi finalmente transformada num livro publicado – “Foi algo muito difícil de acreditar, na verdade. Eu fiquei extremamente feliz por ter um livro publicado.”
Questionado acerca do sucesso que conquistou e das suas expectativas a respeito do seu primeiro “filho literário”, Alex reflete: “Eu nunca imaginei que seria tão bem sucedido quanto foi. Fico muito feliz que tenha sido, pois mudou a minha vida. Eu nunca esperei que tivesse tanto sucesso e ainda é algo difícil de compreender. Talvez o facto da história interligar diversos géneros tenha ajudado. É um thriller, ao mesmo tempo uma história de amor e também um livro sobre terapia”.
Como dito anteriormente, conquistar tanta atenção do público com o primeiro livro é algo incomum. Com isto, é de esperar que as expectativas dos leitores só aumentem relativamente aos livros seguintes. Consequentemente, o que também aumenta, juntamente com a vontade dos leitores de lerem as suas obras, é a pressão sentida, mais ainda depois do fenómeno que foi, e continuará a ser, A Paciente Silenciosa – “Para ser honesto, foi bastante difícil. Senti uma grande pressão. Eu escrevi o meu primeiro livro sem qualquer esperança de que alguém fosse ler, mas para o segundo livro eu estava ciente de que várias pessoas iriam estar interessadas. Acho que, em última análise, tudo o que podemos fazer é escrever por nós próprios e abstrairmo-nos das vozes externas.”
Em 2020, com a eclosão da pandemia, Alex Michaelides viu-se “obrigado” a escrever a sua segunda obra – “Eu tive sorte. Acho que estava com medo de escrever o meu segundo livro e evitei escrevê-lo, viajando para promover o meu primeiro. Com a pandemia fui forçado a sentar-me na minha casa em Londres e escrever. Estou satisfeito por ter conseguido concentrar-me, pois conheço escritores que não conseguiram.”
Agatha Christie foi, é e sempre será a maior inspiração para o autor de 44 anos, provando a intemporalidade da renomada autora britânica. “Ela é a minha maior professora. Sempre que fico sem ideias, eu questiono-me a mim próprio o que Christie faria e isso, normalmente, ajuda”, explica.
Para quem também possui o mesmo bichinho da escrita do que o autor, Alex aconselha: “Eu acho que ajuda se focar num objetivo. A personagem precisa de um objetivo, algo que queira alcançar e as suas tentativas para ser bem sucedida, de modo a que sejamos capazes de ver os obstáculos no seu caminho. Eu diria: ‘nunca desistas’. É difícil não se sentir desanimado e é importante continuar”.
Neste momento, Alex Michaelides encontra-se a terminar de escrever o seu terceiro livro, ainda sem data ou título divulgados. “Eu preciso de dizer que tenho gostado sobretudo de escrever este livro. Eu estou muito feliz por ter a oportunidade de escrever livros que as pessoas queiram ler. Isso dá-me imenso prazer”, realça.
Fonte da capa: Athens Insider
Artigo revisto por Beatriz Merêncio
AUTORIA
Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.