Artes Visuais e Performativas

Conhece o artista ativista: Keith Haring!

Nascido a 4 de maio de 1958, no estado da Pensilvânia, Keith Haring foi desenvolvendo desde cedo o amor pelo desenho, tanto através de cartoons, como da cultura que o rodeava – Dr. Seuss e Walt Disney. 

Em 1976, matriculou-se na Ivy School of Professional Arts em Pittsburgh, numa escola de artes comerciais, mas rapidamente se apercebeu de que esse não era o seu sonho e não queria seguir design gráfico de arte comercial, portanto desistiu. 

Foi para Nova-Iorque, em 1978 para estudar na Escola de Artes Visuais. Encontrou uma comunidade de arte alternativa que se destacava por desenvolver a sua arte fora dos museus. Ao invés de trabalharem e criarem as suas obras dentro dos museus, iam para as ruas, para os metros, para clubes, para antigas salas de dança. Acabou por se tornar num artista-símbolo da América dos anos 80.

Escreve, em 1978, “Um artista destrói os seus próprios objetivos quando passa a pertencer a grupos, quando segue movimentos, quando subscreve manifestos de grupo e partilha ideias de outros. Nenhum artista faz parte de movimentos, a não ser que se torne discípulo. E aí passa a ser descartável e a fazer arte sem utilidade.” 

O que tornou Haring tão especial foi a sua relação com o espaço público, encarando a rua como um laboratório de experimentação, não só no seu veículo de autopromoção, mas também passando uma mensagem de libertação e de paixão pela vida.

Durante a sua adolescência o artista também deixou a sua arte em carros. How cool is that? Em baixo encontras algum dos seus trabalhos. 
O street artist pintou, em 1962, o Mortarini mini Ferrari 33 P-2.

Em 1971, pintou o Land Rover Defender.

Em 1987, pintou a Honda CBR 1000F Hurricane.


Em 1986, em Nova Iorque, pintou um mural de forma a exprimir a sua indignação em relação ao governo por não reagir adequadamente à crescente epidemia de drogas na cidade.



“Crack is Wack”, 1986 – Na parede de um campo de andebol em Nova Iorque. Fotografia por edwardhblake

Haring foi preso por “transgressão”, devido à obra e o mural ilegal foi apagado. A condenação do artista acabou por chamar muito a atenção e o protesto por parte da comunidade local. O artista teve permissão para refazer o trabalho.

As usual, I didn’t ask for permission, and I just brought my ladders and paints.

A razão da escolha deste título deveu-se ao facto de o artista testemunhar a luta do seu assistente de estúdio contra o crack, que o levou quase a experienciar a morte em 1984.

Inspired by Benny and appalled by what was happening in the country, but especially in New York, and seeing the slow reaction (as usual) of the government to respond, I decided I had to do an anti-crack painting.”

Assim, decidiu criar uma pintura anti-crack que era facilmente vista por todos. Atualmente, a obra continua a ser restaurada.

Ainda no mesmo ano, criou um mural no Muro de Berlim. As cores do mural serviam como representação da bandeira alemã e simbolizavam a esperança da unidade entre a Alemanha Oriental e Ocidental.

Sendo um ativista pelos direitos sociais, Haring deixou claro ao New York Times que o mural foi criado com o intuito de provocar e contrariar a ordem política estabelecida até então. A parte do Muro de Berlim pintada pelo artista estava localizada à direita da entrada para a passagem de fronteira Friedrichstraße, Checkpoint Charlie.

O mural já não existe, mas Keith ficou conhecido por defender a livre circulação dos berlinenses orientais para a República Federal da Alemanha Ocidental.

Agora em jeito de curiosidade, sabias que o mural demorou cerca de seis horas a ser construído? Tendo em conta que o fundo amarelo foi pintado no dia anterior.
Em 1986, Keith Haring abre uma loja, incentivado pelo seu grande mestre, Andy Warhol, perito da arte pop, como uma extensão do seu próprio trabalho, pintando o interior da loja.


Haring no interior da sua loja. Fotografia do Público

Abriu assim uma Pop Shop, em Manhattan, onde vendia pins, crachás, posters, t-shirts, a baixo custo. A loja aguentou-se até 2005, hoje ainda existe em formato online

Ainda em 1988, numa entrevista para a revista Rolling Stone, Haring declarou que era portador do vírus do HIV. Criou de seguida a Keith Haring Foundation, a favor das crianças vítimas de SIDA.

Durante a sua vida, o artista abordou por diversas vezes temas políticos e sociais, porém, nos seus últimos anos de vida, ocupou-se de causas como a homossexualidade e a SIDA, tentando, assim, gerar uma consciencialização relativa para os temas. Visto que, nos anos 80, Nova Iorque viveu a crise da SIDA, esta era uma epidemia que transportou com ela muitos estigmas contra a comunidade LGBT e tantas outras, devido à falta de informação correta sobre este vírus.

Keith Haring, ativista contra a crise do HIV e também ele assumidamente homossexual, usava, então, a sua arte para consciencializar a sociedade no geral (tanto os grupos sociais marginalizados como a restante população) e criticar a ignorância e o silêncio das próprias vítimas que viviam com o medo da opressão social.

O artista apela a que todas as pessoas se levantem e lutem, que todos se unam contra os estereótipos em torno do HIV e que se faça justiça, destruindo os estigmas contra a comunidade LGBT.

Esta ideologia de Haring foi assumida numa das passagens existentes no seu diário, onde procura enfatizar o quão importante era para o futuro da existência humana a aceitação do próximo tal como este era, aceitando que somos todos diferentes, todos humanos, todos em constante mudança e todos a contribuir para algo maior.

Em 1989, o artista pinta a sua última obra pública. Cria, assim, um grande mural intitulado de Tuttomundo, dedicado à paz mundial, em Itália.

Fotografia de Contemporarynomad

Numa primeira fase da epidemia, o vírus prevaleceu em grupos sociais que eram marginalizados pela sociedade – prostitutas, viciados, homossexuais chegando a intitular-se de “gripe gay” ou Síndrome de Imunodeficiência relacionada com os Homossexuais. 

Keith morre com 31 anos em 1990, vítima de SIDA. 

Como um artista do mundo e da moda, também colaborou com ícones como Madonna e influenciou marcas como a Lacoste. 

Hora da curiosidade

Passados cerca de trinta anos, a pintura na parede que Keith pintou em 1986 numa fábrica, em Amesterdão, vai ser restaurada, a que, após oito anos da sua execução, tinha desaparecido atrás de uma fachada de metal.

Mural do artista. Fotografia por Hanna Hachula

A obra de Haring em Portugal

Em 2004, houve uma grande exposição na Culturgest. A cargo de Astrid Sauer, as obras escolhidas pretendiam enaltecer a linguagem gráfica do artista, assim como demonstrar as diversas temáticas e questões que Haring passava.

A estação de comboios de Cascais foi também redecorada com imagens alusivas ao street artist, a cargo do AkaCorleone (Pedro Campiche ), assim como uma das carruagens.

Keith Haring: Um artista para sempre recordado que usou a sua obra para amplificar a luta contra diversas causas.

Artigo revisto por Maria Ponce Madeira

AUTORIA

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Sempre quis pilotar aviões, mas a vida mudou-lhe os planos e descobriu o prazer na escrita. Movida a desafios e curiosidade, a Mariana adora correr, meditar e trabalhar em multimédia. Pensa no futuro mas vive muito o presente, confia na vida e sabe que vai ter sempre um lugar para a escrita. Nasceu em Lisboa mas vive nas Caldinhas, “o oeste é vida”, garante. Perde-se no mar, mas o surf dá-lhe vida.