Cinema e Televisão

Into the Woods, ponderar o quanto se deseja o maior desejo

Adaptado ao cinema por James Lapine e dirigido por Rob Marshall, o novo musical da Walt Disney Studios, Into the Woods, estreou nos cinemas portugueses no primeiro dia do ano. Entrelaçando histórias clássicas, como  Cinderella, Capuchinho Vermelho, João e o Pé de Feijão e Rapunzel, o filme explora as consequências dos desejos das personagens e as medidas que estas tomam para os atingir.


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Começa por honrar os seus antepassados com o clássico “Era uma vez” e desenvolve-se assim que as personagens entram na floresta, com os seus objectivos pessoais em mente. No entanto, como elemento chave e fora do contexto, surge um casal que, apesar de o desejar intensamente, foi impedido de ter filhos por estar sob maldição da Bruxa da aldeia (Meryl Streep) Colocar link: http://escsmagazine.escs.ipl.pt/meryl-streep-a-atriz-a-artista-a-juncao/. A única forma de quebrar a maldição será através da recolha de quatro itens até à terceira meia-noite: uma vaca branca como o leite, uma capa vermelha como o sangue, cabelo amarelo como o milho e um sapato tão puro quanto o ouro. É então, quando o casal parte em busca deste itens, que os quatro contos ganham uma forma familiar e ao mesmo tempo se interligam.

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Na floresta, as protecções e inibições são removidas e o poder emocional emerge. O público é confrontado com sua posição frente à história que antes conhecia, ao ser-lhe dada uma nova perspectiva da sua crença. Serão o certo e o errado conceitos assim tão distintos? Até que ponto os fins justificam os meios? Ou os meios justificam os fins? Se alguém sacrificar um desejo, o rumo será diferente? Vale a pena lutar por ele? Sentir-se-á satisfeito quando o alcançar? Ou seremos nós, seres humanos, cativados pelo inatingível e possuidores de ambições repletas de constante insatisfação?

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Como incentivo a mergulhar profundamente nestes enigmas filosóficos que fazem parte do nosso quotidiano, ergue-se ainda um momento protagonizado por todas as personagens – “Your Fault”. Nesta parte do musical, as personagens procuram respostas e apontam o dedo à pessoa que os colocou naquela situação. É infeliz o quão familiar do público se torna essa passagem, apesar de propositado. Quantas vezes colocamos a culpa em alguém antes de olharmos para as nossas próprias faltas? Quantas vezes testemunhamos situações em que alguém é culpado injustamente?

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Quase como uma chamada à razão, é também parte do diálogo da Cinderella quando o Príncipe a interroga sobre não possuir tudo o que sempre quis. Ao que ela responde: “A casa do meu pai era um pesadelo. A tua casa é uma sonho. Desta vez eu quero algo entre os dois”. São inúmeras as perspectivas e contextos com que esta passagem pode tocar o público, mas refere-se essencialmente à autenticidade da experiência fora de extremismos, ao ser no meio que se encontra a virtude.

Este enredo, que conta com a participação de atores como Johnny Deep, Anna Kendrick, Emily Blunt e Meryl Streep, visa demonstrar, de uma forma não tão sublime e um pouco mais pedagógica, que as conclusões retiradas anteriormente nem sempre justificaram as motivações das personagens. No entanto, ir ao fundo da questão e explorar questões de moralidade relativa contém a desvantagem de perder o impacto que outrora gerou. E, apesar de ser possuidora de conteúdos persistentes na actualidade, esta narrativa que surge através da conjugação das restantes quatro perde não só a clareza dramática como também a força que as outras narrativas clássicas continham em si isoladamente.

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