Artes Visuais e Performativas

Mas, afinal, quem é a C’ Marie?

Ilustradora, pintora de murais e aprendiz de tatuagens, a Constança Bettencourt, mais conhecida como C’ Marie, licenciou-se em escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e tirou Mestrado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Arte e Design. Assim vive e trabalha entre Lisboa e as Caldas da Rainha.

Nascida em 1992, a artista desenha desde que se lembra, tendo começado a trabalhar de forma mais séria com 22/23 anos quando foi de Erasmus.

A freelancer tem vindo a trabalhar imenso no digital, devido às circunstâncias do trabalho, mas tem preferência por pintar a acrílico, aguarela, trabalhar em madeira, gesso e pintar murais.

Para além disso, já deu aulas, foi monitora em colónias e trabalhou em museus, visto ser fã de história e de arte. Algumas exposições em que trabalhou foram a montagem da exposição no CCB, montagem da exposição dos “20 anos do Lux Frágil”, assistente de sala e guia no Museu de Arte Antiga na exposição de Joaquim Sorolla, assim como guia no Palácio Nacional da Ajuda na exposição de Miró.

Durante a sua infância, quando se portava mal, a mãe dizia-lhe “Constança Maria” e assim surgiu C’ Marie como nome artístico.

A artista diz a quem gostava de ser ilustrador/ra: “Desenhar diariamente. Sair da zona de conforto. Aprender com os outros artistas. Ler sobre arte. Ir a exposições. Estar atento ao que nos rodeia. Desenhar tudo e mais alguma coisa, até que encontres o teu caminho e que ele seja genuíno, que te traduza em gestos e linhas.”

A sua maior inspiração são as pessoas. Gosta muito de as observar, adora imagens de editoriais de moda, gestos e expressões. Constança gosta da maneira como os rostos contam e escondem histórias e vivências. Um dos seus momentos preferidos do dia era a viagem de metro que fazia até à Baixa-Chiado:

“Naqueles 15 segundos via um rebuliço de gente que me fascinava. Sinto que somos a espécie mais diferente de si própria que existe. Não só pelas nossas roupas ou pelo nosso aspeto, mas como o nosso olhar, as nossas marcas, passam o que vivemos…”.

E como é a vida de artista?

Enquanto artista, garante que todos os dias são diferentes – não há muita rotina, mas para a ilustradora funciona. Há dias em que faz apenas retratos, outros em que planeia futuros projetos, mas no geral desenha, envia e-mails, faz candidaturas, responde a mensagens, vai a reuniões de futuros projetos, envia orçamentos e quando tem um tempinho desenha para si.


( C’ Marie no processo de criação )

Enquanto freelancer na área das artes, conta que é tudo um processo, um investimento. Conta que, se trabalhares todos os dias e se for mesmo essa a tua vontade, é possível. Além disso, admite que não é fácil – há muitos dias incertos, mas o balanço é bastante positivo.

No seu caso, não trabalha com empresas, mas em projetos mais “livres” acaba por trabalhar.

“Gosto muito de ser independente, apesar de todos os riscos que daí advém.”

O seu maior sonho a nível profissional é continuar a poder viver do seu trabalho e que, com o tempo, este venha a ser reconhecido por pessoas da área.

Constança revela que nunca quis ser artista. A vocação do coração era a medicina.

Ainda assim, a vertente artística sempre esteve presente na sua vida. Para além do desenho e da escultura, praticou dança, teatro e canto lírico. Apesar de nunca ter deixado a sua ligação às artes, nunca achou que esse iria ser o seu caminho profissional.

A vida dá muitas voltas, simplesmente não me integrei no pensamento do curso das ciências.”

Agora é hora de apreciar os seus trabalhos:

Mural na Fábrica Braço de Prata – C’ MARIE X EGRITO

«O movimento é um dos problemas mais tradicionais da cosmologia desde os pré-socráticos, no sentido em que envolve a questão da mudança na realidade. E a expressão artística é um dos motores para esse fenómeno que move e, assim também, abraça a transformação.

Movimenta, no imperativo proposital, vem de um verbo transitivo, aquele que por essência aceita mais objectos. Significa “dar vida a”, “animar-se”. E a assumir que de tudo isto precisamos, inauguramos nesta quinta-feira, dia 9 de Julho, uma exposição colectiva de 4 murais na área externa da Fábrica, com bastante ar livre, espaço seguro e um pouco de liberdade

Abril

«Olá. Chamo-me Abril e tenho 25 anos.
Vivo numa comunidade. Aqui todos nos protegemos. Somos parte de um todo, muitas vezes meio que à margem…
Nem sempre percebi esta questão do “nós” e os “outros”, os “outros” e o “nós”.

Em comunidade, todos trabalhamos, principalmente as meninas. Desde cedo que ajudamos nas tarefas de casa, aprendemos a costurar, a ouvir o pai e a ajudar as nossas mães. Os rapazes têm mais espaço para brincar ou ir à escola. De nós, mulheres, é mais esperado que continuemos o legado, que tenhamos filhos e uma casa da qual cuidar.
Há um vínculo muito forte com a família e protegemo-nos mutuamente.

Sempre ambicionei ter um emprego, ser uma mulher livre, independente. Quero casar e ter
família, mas quero estar a par do meu companheiro.

Gostava bastante de ir à escola com as outras crianças e tinha até facilidade. Ajudava os meus pais depois das aulas no negócio deles, mas nunca senti que aquele fosse o meu futuro.
Tive a felicidade de no meu percurso escolar ter tido sempre professores que me respeitavam sem me tratar de forma diferente e que me incentivavam a que não deixasse a escola, a que procurasse o meu próprio caminho.

No dia em que contei aos meus pais que pretendia seguir um curso superior não foi fácil.
A minha mãe pôs as mãos na cabeça. O meu irmão disse que era uma perda de tempo e de dinheiro. Só o meu pai, depois de um momento em silêncio, me apoiou.
Na comunidade não foi uma decisão bem vista. As mulheres têm de procurar marido, não estudos.
O facto de esta ter sido uma decisão minha, de eu ter tido este sonho, esta ambição, criou uma enorme pressão em mim. Tinha de conseguir, de chegar mais longe. Era expectável a falha e eu não queria ouvir “Ela queria, tentou e não conseguiu.
”»


Mural na Fachada da
Escola Básica Luís Sttau Monteiro, em Loures:

 
“República Portuguesa “, 2020
– C’ MARIE X EGRITO X Rita Ravasco X Patrícia Dias

Se queres ter uma tote bag, um quadro ou tantas outras peças feitas pela C’Marie, visita a sua loja online!

C’ Marie: uma artista que nunca o pensou ser.

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

AUTORIA

+ artigos

Sempre quis pilotar aviões, mas a vida mudou-lhe os planos e descobriu o prazer na escrita. Movida a desafios e curiosidade, a Mariana adora correr, meditar e trabalhar em multimédia. Pensa no futuro mas vive muito o presente, confia na vida e sabe que vai ter sempre um lugar para a escrita. Nasceu em Lisboa mas vive nas Caldinhas, “o oeste é vida”, garante. Perde-se no mar, mas o surf dá-lhe vida.