Monsanto: a ponte entre a capital e a natureza
Na beirada de Lisboa, quase entrando nas localidades ao redor da capital, encontra-se o maior parque urbano de Portugal. O Parque Florestal do Monsanto situa-se na Serra de Monsanto, na zona ocidental da cidade. Até ao final dos anos 30, esta zona era separada para a plantação de cereais, contudo, o então Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, decidiu replantar a área, de forma a criar um espaço de lazer e recreio para a população. Verifica-se que este plano foi concretizado com sucesso e expansão, pois hoje em dia, esta é já considerada uma floresta adulta onde se erguem centenas de espécies de árvores e mais de 60 espécies de aves, esquivos mamíferos como coelhos-bravos e esquilos-vermelhos, além de vários répteis e anfíbios. Ao andarmos pelo parque, conseguimos ver a olho nu as diferentes e encantadoras vegetações que ali crescem.
A sua geolocalização faz com que diversas freguesias na grande Lisboa possam aproveitar este pulmão citadino. Monsanto é um local especialmente agradável para se visitar na atual pandemia, o que certamente facilita nesta altura em que é aconselhado ficarmos próximos às nossas casas.
O novo confinamento trouxe-nos novamente para casa. Presos aos aparelhos eletrónicos e à Internet, é fácil distanciarmo-nos do mundo que nos cerca, o mundo palpável. Os parques infantis estão fechados, assim como os locais para a prática desportiva ou para a realização de piqueniques. Desta forma, trazemos para si uma outra parte do Monsanto: aquela que ainda pode usar para se reconectar com a natureza ou para recarregar as forças. Os seus 900 hectares – aproximadamente 910 campos de futebol – são três vezes maior do que o “Central Park”, em Nova Iorque, sendo o espaço ideal para passeios higiénicos, mas ainda livres e agradáveis.
Orientações Iniciais
A melhor forma de se orientar no Parque Florestal é consultando o Mapa Geral de Monsanto onde estão assinalados todos os parques de estacionamento, os principais locais de referência, assim como os percursos pedestres e as ciclovias existentes. Pode também visitar o Centro de Interpretação de Monsanto, localizado na zona norte, que funciona como um espaço de receção e informação para os visitantes.
O acesso ao parque pode ser feito de carro, de bicicleta, a pé ou até mesmo de autocarro. Estes caminhos comuns para todos os meios de transporte são facilmente marcados e, em 2018, no âmbito do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Lisboa, os trilhos de Monsanto foram recuperados e construíram-se novos caminhos, implementando-se, pela primeira vez, sinais para facilitar a circulação das pessoas, tanto a pé como de bicicleta.
Atualmente, há 12 percursos pedestres assinalados. Cada um deles possui características específicas que adequar-se-ão aos diferentes objetivos de passeio dentro do Parque, como, por exemplo, o circuito do Keil do Amaral, que leva ao miradouro, que falaremos com mais detalhes a seguir. Para avaliar qual deseja traçar, recomendo que vá ao mapa, já disponibilizado, e procure pelos pontos principais do parque que deseja visitar ou os locais mais próximos de sua moradia. São eles:
- Volta do Planalto (circular, 7km, 1h30)
- Rota da Água (circular, 7,8km, 2h15)
- Seis Pedreiras
- Monsanto de Monsanto
- Moinhos do Mocho
- Keil do Amaral (circular, 4km, 50 minutos)
- Vila Pouca – Bela Vista (circular)
- Campismo – Chaminés D’El Rei
- Encosta da Pimenteira – Alcântara
- Alto do Duque
- Circuito Acessível
- Trilho da Corrida
É importante notar que cada um destes trilhos é sinalizado com diferentes cores – já demarcadas no mapa -, existindo, de igual forma, uma indicação de quantos quilómetros faltam para terminar todo aquele percurso. Assim, se estiver a andar no Monsanto e encontrar uma sinalização colorida em madeira, fique tranquilo, porque vai ser mais fácil de se encontrar no mapa. Afinal, todos os caminhos levam para as entradas do Parque. Outra informação interessante é que, mesmo sendo um parque florestal, o Monsanto possui conexão para telemóveis e redes móveis em toda a sua extensão. Então, não te preocupes se chegares a uma rua ou área com poucas pessoas. Há sempre a possibilidade de ligar para pedir ajuda ou utilizar aplicações de geolocalização.
Mesmo que quando se anda se possa ver e experienciar mais profundamente o meio que o cerca – além de ser a melhor maneira de encontrar locais escondidos e inesperados –, também é uma ótima escolha utilizar as ciclovias. Elas estão, igualmente, sinalizadas no Mapa Geral do parque. Contudo, existem trajetos paralelos, mais fechados e escondidos, para aqueles que desejam aventurar-se no Mountain Bike.
Do meio do nada à vista panorâmica da cidade
Os diferentes parques que existem no Monsanto são sempre uma fabulosa opção para aqueles que querem apanhar sol, assim como os trilhos são excecionais para uma caminhada diferente. Todavia, são os vários miradouros que fazem a perfeita ponte entre a natureza e a capital. Pode escolher entre visuais como a Ponte 25 de Abril ou até mesmo o meio da cidade. De entre as opções, é certo que, pelo menos, a experiência trará um ângulo refrigerador sobre Lisboa e o meio urbano que parece muitas vezes que nos sufoca.
Todos os miradouros do Monsanto são gratuitos. A maioria deles não possui um estacionamento muito próximo, por isso, prepare-se para subir algumas inclinações ou escadas. Contudo, todas as caminhadas são locais sinalizados e muitos dos miradouros possuem até mesmo casas de banho nas suas proximidades. Alguns deles são:
#1 Panorâmico de Monsanto
Há quem diga que o abandonado restaurante panorâmico de Monsanto é a melhor vista de Lisboa. Situa-se no ponto mais elevado do Parque Florestal, no Alto da Serafina, e oferece uma visão de 360º não só sobre a imensa área verde, mas também sobre a cidade. Este miradouro tem quase meio século. Foi restaurante de luxo, bingo, discoteca, edifício de escritórios e armazém. Abandonado desde 2001, o Panorâmico recebia apenas a visita esporádica de exploradores urbanos, turistas, curiosos ou pessoas munidas com latas de tinta para fazer aquilo que as pessoas munidas com latas de tinta fazem. Tem sido palco do Festival Iminente que tem intervencionado o espaço com arte urbana. Algumas obras estão até em exposição no seu interior, incluindo a do artista Vhils.
#2 Miradouro Keil do Amaral
Este miradouro leva o nome do arquiteto responsável pelo projeto e pela execução de todo o parque do Monsanto quando houve o desejo de reflorestar a área. Ele fica semi-escondido entre a floresta, na colina do auditório com o mesmo nome, e tem vista para a ponte e para o rio. Além da vista, este miradouro possui um elemento interessante e inusitado: o anfiteatro. Situado na vertente sul do parque próximo à Alameda Keil do Amaral, um local muito conhecido já por ser ótimo para a realização de piqueniques. Assim, se quiser ir com a família almoçar num domingo à tarde ao ar livre, já pode também vislumbrar a vista do Rio junto à floresta. Há acesso de carro e autocarro até à Alameda; contudo, tem de se fazer uma caminhada até ao miradouro.
#3 Miradouro do Moinho das Três Cruzes do Calhau
Outro miradouro próximo a um local incrível para a realização de piqueniques futuros é o Miradouro do Calhau. Perto do Palácio da Fronteira e das ruínas de um moinho, com zonas de descampado sem árvores, é ideal para pessoas que gostam de estar ao ar livre a ler um livro, mas não querem ter plantas por perto. O Parque possui um estacionamento nas proximidades e tem acesso de autocarro.
Do miradouro vê-se bem se há ou não muito trânsito no Eixo Norte-Sul. É a vista certa para a parte “errada” de Lisboa, o lado sem muitas atrações turísticas. Mesmo sem uma vista paradisíaca, a caminhada e o espaço fazem o passeio valer a pena. Se quiser prosseguir o passeio, também pode percorrer o trilho “Volta do Planalto” até ao começo do aqueduto das Águas Livres, próximo ao bairro da Serafina. É um local interessante para um passeio turístico, enquanto não podemos visitar os monumentos mais convencionais da cidade.
#4 Miradouro do Alto da Serafina
Na ponta mais isolada (e sossegada), no cimo do Parque Recreativo do Alto da Serafina, zona norte de Monsanto, encontramos uma clareira relvada onde foi construído um telheiro e de onde se avista, através de um telescópio, quer a ponte, quer o rio, e, desta vez, a parte “certa” da cidade. De entre os miradouros anteriormente citados, este é certamente aquele que tem o acesso mais facilitado.
Para os ESCSianos!
Uma dica final aos escsianos e demais alunos do campus do Instituto Politécnico de Lisboa. Há uma entrada para a Mata de São Domingos de Benfica e, consequentemente, para o seu Parque de Merendas, pela Ciclovia Lisboa-Cidade, que passa por cima da Avenida General Correia Barreto e começa na Rua Tenente Coronel Ribeiro Reis. Quem quiser provar um pouco de ar fresco após um dia cheio de aulas e trabalhos ou procure um ambiente diferente para estudar, pode ir até lá numa caminhada de 15 minutos, onde estão ao seu dispor mesas, bancos e até mesmo casas de banho (perto da Estrutura Artificial de Escalada) e bebedouros. Logo que sair da passarela que dá acesso ao Parque, é só virar à direita e andar um pouco mais para encontrar toda a estrutura, incluindo também um parque infantil, um campo de basquetebol e um circuito de obstáculos.
Artigo revisto por Ana Janeiro
Fonte da capa: PAN
AUTORIA
A curiosidade e o questionamento são naturais desde que se lembra. Da História até às artes, sempre tomou gosto por se informar e por compartilhar com outros as suas descobertas. Assim, ao mesmo tempo que o conhecimento e a comunicação surgiam como um estilo de vida, os caminhos jornalísticos e pelo mundo da comunicação social se apresentavam como os melhores a se trilhar.