A emancipação das mulheres negras em Madam C. J. Walker: Uma Vida Empreendedora
Madam C. J. Walker: Uma vida empreendedora é uma série inspirada numa história verídica. Madam C. J. Walker foi a primeira milionária americana por mérito próprio, devido à comercialização de produtos capilares para mulheres negras.
Apesar do sucesso que alcançou, Walker tem origens humildes. Nasceu numa plantação de algodão, filha de pais escravos, no Louisiana, Estados Unidos da América. O seu sonho sempre foi ter um cabelo bonito e cuidado, mas este foi empurrado para debaixo do tapete, devido às dificuldades sociais de que era alvo. Mesmo após a abolição da escravatura naquele país, o medo era um sentimento presente.
C. J. Walker era vítima de um casamento infeliz, marcado por abusos físicos e alcoolismo. Era lavadeira, mas, devido aos detergentes muito tóxicos, começou a perder o cabelo e, consequentemente, a autoestima. Para si, o cabelo era muito mais do que um aspeto físico. Esta descreve-o como: “o cabelo é beleza. O cabelo é emoção. O cabelo é o nosso legado. O cabelo diz-nos quem somos, onde estivemos e para onde vamos”. Até que um dia a sua vida mudou para sempre quando o seu sonho bateu à porta. Este apareceu na forma de Addie Munroe, que lhe propunha a compra de um tónico capilar. Desde aí, surgiu uma relação de amizade e, como o crescimento do cabelo de Walker era visível, o nascimento da sua vontade de viver, da sua autoestima e do seu sonho há muito visto como impossível.
C. J. Walker trocava tratamentos capilares com Addie Munroe em troca de roupa lavada. Mas esta troca não a satisfazia, pois tinha conhecimento de que era uma limitação das suas capacidades. Porém, Addie não a deixava ser uma das vendedoras da sua marca, já que apenas queria que estas fossem mulatas. Walker não deixou que isto a abalasse e roubou produtos às escondidas, para poder convencer Addie de que também poderia ter sucesso nas vendas. Mas no final, quando devolveu o dinheiro e confessou a sua ação a Addie, esta despediu-a e afirmou que ela nunca teria sucesso devido à sua cor de pele.
A partir daí, ambas as mulheres se tornaram inimigas, sendo o problema do colorismo bastante presente na série. Segundo este termo, uma pessoa negra com uma tonalidade de pele mais clara beneficia de maior aceitação por parte da sociedade.
Uns anos mais tarde, C. J. Walker confessa em privado à sua filha: “Quando a Addie Munroe entra numa sala, todos se viram. Nunca ninguém olhou assim para mim. (…) Todos querem uma menina clara, esperta e com cabelo sedoso. Tu e eu temos de trabalhar mais e de ser mais espertas. E enriquecer.”
Esta discussão dá força a Madam C. J. Walker e fá-la mergulhar profundamente no seu sonho. Onda após onda, esta conseguiu construir um império milionário de sucesso. Mas, mais importante, formou um espaço laboral que empoderava as mulheres negras, não só economicamente, mas também socialmente.
A marca da Madam C. J. Walker ainda existe atualmente, tendo sido comprada com o consentimento de uma descendente de Walker, a A’Leila Bundles. Foi esta que escreveu o livro Self Made em que esta série é baseada. E está atualmente a escrever a biografia da filha de Walker, a A’Lelia Walker.
A própria série foi um local de representação para as mulheres negras que pouco frequentemente têm papéis de destaque nas produções de cinema e séries. Esta história inspiradora pode ser acompanhada ao longo de quatro episódios na Netflix.
Artigo revisto por Rita Asseiceiro
Fonte da foto de capa: Consumidor Moderno
AUTORIA
A Matilde sempre sonhou em ser jornalista. Isto depois de ter desistido das suas aspirações de astronauta do jardim de infância, por estar sempre na lua. É apaixonada por histórias independente do formato onde estas estejam. Procurou a ESCS Magazine para contar algumas das suas. É licenciada em Ciências da Comunicação, e atualmente frequenta o mestrado de Jornalismo da ESCS.