Opinião

Dia Mundial da Voz – por uma causa que precisa de ser ouvida

O Dia Mundial da Voz celebra-se, desde 2003, a 16 de abril. A data tem como objetivo alertar para a importância da voz e para quais os cuidados necessários para a preservar. No entanto, preferi comemorar o dia com uma perspetiva diferente e ser a voz de uma causa que precisa cada vez mais de ser escutada.

Quando era mais nova, sempre pensei que fosse fácil sermos ouvidas – sim, falo apenas no feminino, porque é por nós, mulheres, que escrevo este artigo. Sempre pensei que a minha opinião seria aceite, mesmo que nem todos concordassem com ela; que os meus medos e receios fossem válidos, mesmo que nem todos os percebessem; que eu me sentiria segura em qualquer lado, mesmo que usasse “roupas provocantes” ou que estivesse na rua “a horas não decentes”. Educada numa família progressista e comparando várias vezes a minha educação com a do meu irmão mais velho, sempre pensei que as coisas fossem fáceis para o “sexo inferior”.

Há uns dias deparei-me com uma história triste, uma entre tantas outras que já me passaram pelos olhos nas redes sociais. O assunto que tem dado tanto que falar conta a história de uma rapariga de 22 anos que foi vítima de violência no namoro durante vários meses. Após ter feito queixa e de o indivíduo ter sido preso, acabou por perdoá-lo e por ajudá-lo a sair dessa situação. No entanto, as agressões voltaram e a rapariga, agora descredibilizada devido à sua conduta anterior, resolveu “gritar” para pedir ajuda. Infelizmente, tornou-se comum culpar a vítima independentemente da situação e, desta vez, não houve exceção à regra. As redes sociais encheram-se de comentários pouco agradáveis que menosprezavam a dor da vítima e a culpavam por se ter colocado novamente no mesmo cenário. Apesar de ter existido pessoas solidárias com a situação, essas não foram, de todo, a maioria. 

Desde que me lembro de estar mais atenta a estes problemas que acontecimentos destes se têm multiplicado. O curioso é que, apesar de serem sempre histórias diferentes, a conclusão é sempre a mesma e o julgamento social também: a culpa é da vítima. Confesso que, por vezes, gostava de acompanhar o raciocínio de quem chega a esse tipo de conclusões, mas perco-me pelo meio. Como é que a vítima pode ser a culpada? Como é que alguém tem a capacidade de se focar apenas nos erros de quem sofreu e de lhe dizer “aguenta-te, porque foste tu que te colocaste nesta posição”?

E como é que nós, mulheres, que somos vítimas em tantas situações iguais ou semelhantes a esta, conseguimos falar, se ninguém nos quer ouvir?

Acredito que para esta rapariga, à semelhança de tantas outras, foi difícil contar a sua história e ver as suas fragilidades tão expostas. No entanto, calculo que tenha sido bem mais complicado ver, posteriormente, os comentários desagradáveis e todo o julgamento de que foi alvo por pessoas que conheciam apenas um terço do que se passou.

Fonte da imagem: Uniarea.com

Até quando é que vamos ridicularizar aquilo pelo que as mulheres passam? Até quando é que vamos culpá-las pelo assédio de que são vítimas cada vez que colocam um pé fora de casa? Até quando é que vamos permitir que lhes levantem a mão e que ajam como se elas fossem propriedade de alguém? Porque é que o culpado não é o homem que manipula e que as faz sentir mal, mas a mulher que se deixou manipular e que se “colocou nessa posição”?

Acho que o primeiro passo para que esta luta diária das mulheres seja mais valorizada é, sem dúvida, sermos ouvidas e não descredibilizarem aquilo que sentimos ou aquilo pelo qual passamos. Não deixemos que nenhuma mulher “sufoque” com o grito de ajuda que queria ter dado e que não deu por medo ou vergonha. No dia de hoje é importante relembrar que todas temos uma voz e que enquanto uma de nós se mantiver erguida, segura, nem sempre serena, mas sempre mulher, a luta será necessária. Sejamos a voz de quem não a tem e deitemos a mão a todas aquelas que precisam. 

Fonte da imagem de destaque: Elle

Artigo revisto por Constança Lopes

AUTORIA

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Com quase duas décadas de vida, aqui vos apresento a rapariga mais extrovertida que possam vir a conhecer. Nascida e criada na margem sul, sítio onde são feitos os sonhos, garante que tem uma mão cheia deles. Foi na área da comunicação que encontrou o melhor que a vida lhe podia oferecer – a oportunidade de conhecer histórias e de contá-las a quem mais as deseja ouvir. Prazer, chamo-me Margarida.