Desporto

Goalball: um tiro no escuro

Já pensaram como seria terem os vossos estímulos visuais reduzidos a zero? Como seria terem de se deslocar dentro de um campo sem qualquer referência visual, tendo de recorrer e depender a cem por cento dos estímulos táteis e auditivos? Esta é a realidade dos praticantes de goalball.

Como surgiu

O goalball nasceu em 1946 pelas mãos do austríaco Hanz Lorenzen e do alemão Sett Reindle. Esta modalidade foi criada com o intuito de servir como um desporto de reabilitação para os soldados que ficaram com efeitos colaterais físicos graves e irreversíveis como consequência da Segunda Guerra Mundial.

dois homens a jogar goalball
Fonte: Lance
Características do goalball

A regra de ouro no goalball é o silêncio. É fundamental que os atletas consigam ouvir a bola. É estritamente necessário que o público não se manifeste enquanto a bola está em jogo para que não atrapalhe os jogadores, principalmente na sua ação defensiva, pois neste desporto, independentemente do grau de visão do atleta, é obrigatório que utilize vendas opacas nos olhos, de modo a ficarem todos em pé de igualdade.

Como dito anteriormente, a audição é algo fundamental. A bola possui as dimensões de uma bola de basquete, porém pesa 1,250kg e está equipada com guizos no seu interior para permitir aos atletas identificarem a trajetória dos remates, que são executados com as mãos. As medidas oficiais do campo indicam os 18 metros de comprimento por 9 metros de largura. Todas as áreas do campo estão delimitadas no chão por linhas em alto relevo, o que possibilita aos jogadores orientarem-se através do tato, dentro de campo. As balizas ocupam toda a largura do campo (9 metros de largura por 1,30 metros de altura). O campo está dividido em três áreas: área de ataque, área neutra e área de defesa, cada uma com 6 metros.

No goalball, os atletas precisam de ser classificados para poderem jogar internacionalmente, ou seja, é necessário determinar o seu grau de visão, que pode variar entre B1 (cegueira total ou próximo), B2 (cegueira parcial) e B3 (ainda com bastantes resíduos visuais). Nota: a letra B, que antecede o grau de incapacidade visual, vem da palavra inglesa blind, que significa cego.

três homens numa baliza de goalball
Fonte: Mais Futebol

A partida tem a duração de 24 minutos, dividida em duas partes de 12 minutos com um intervalo de 3 minutos, sendo que sempre que a bola sai de campo o tempo é interrompido.

É permitido às equipas pedirem quatro time outs (tempo técnico pedido pelos treinadores para poderem falar com a equipa) cada um com a duração de 45 segundos, tendo em conta que um time out tem de ser pedido durante a primeira parte, caso contrário a equipa passa a ter apenas direito a três.

Relativamente às substituições, estas funcionam como os time outs. Quatro substituições, sendo que uma tem de ser feita na primeira parte. Durante o intervalo também é possível fazer substituições e essas não entram para a contagem.

E como já devem calcular, o objetivo é marcar mais golos do que a equipa adversária.

uma foto ilustrativa de um golo em goalball
Fonte: Rede do Esporte
Jogadores e seleções de referência

À semelhança das outras modalidades, o goalball também está presente num panorama internacional, sendo uma modalidade presente nos Jogos Paralímpicos. Entre as seleções nacionais masculinas de elite podemos encontrar: Brasil (campeões Paralímpicos em Tóquio), China, Alemanha, Lituânia, EUA, entre outras. No lado feminino encontramos: Turquia (campeãs Paralímpicas em Tóquio), Brasil, EUA, Israel, Japão, entre outras.

Alguns atletas masculinos de nome são o Romário Marques (BRA), o Leomon Moreno (BRA), o Justas Pazarauskas (LT) e o Erkki Miinala (FIN). No lado feminino, temos Sevda altinoluk (TUR), Amanda Dennis (USA), Ana Carolina Duarte (BRA), lihi ben david (ISR), entre outras.

Deixar aqui também uma menção honrosa a dois atletas nacionais de excelência: Hadiley Sacramento (atual Internacional pela equipa das quinas) e João Pereira (ex-internacional português).

O goalball é um desporto único que merece a atenção dos amantes de desporto, tal como outra modalidade qualquer. Todos os dias, as modalidades menos mediáticas lutam para conquistar o respeito e reconhecimento que tanto almejam da população geral.

Este é o goalball.

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

AUTORIA

+ artigos

Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.