ONU em negociações com a China: em causa o tratamento da minoria Uigur
António Guterres, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), anunciou o início das negociações com a China. O objetivo é enviar representantes a Xinjiang, onde a minoria Uigur tem sido vítima de uma política repressiva.
“Sérias negociações estão em andamento entre o escritório do Alto Comissariado [para os direitos humanos] e as autoridades chinesas“, afirmou António Guterres, em entrevista ao canal canadiano CBC.
Acrescentou ainda que espera que rapidamente se chegue a um acordo, de modo a que o Alto Comissariado para os Direitos Humanos possa visitar a China “sem restrições ou limitações”.
Estudos publicados por institutos dos Estados Unidos e Austrália, contestados pela China, avançam que pelo menos um milhão de uigures foram internados em “campos” na província de Xinjiang, no noroeste da China, e alguns foram submetidos a “trabalho forçado”. No início deste mês, o Canadá juntou-se aos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, para impor sanções a quatro autoridades chinesas suspeitas de envolvimento na campanha de perseguição contra os uigures, ao que a China respondeu com a imposição de sanções a indivíduos e entidades dos EUA e Canadá.
A China tem vindo a contestar estas acusações.
“A China tem-me dito repetidamente que deseja que esta missão aconteça”, declarou, na mesma entrevista, António Guterres.
Acusações contra a China
A China tem enfrentando críticas de todo o mundo, devido à forma como tem tratado a minoria Uigur, na região noroeste de Xinjiang.
A Global Affairs Canada afirma que há evidências que mostram que o estado chinês é responsável por prender arbitrariamente mais de um milhão de pessoas, com base na sua religião e etnia, e por as submeter a uma “reeducação política, trabalho forçado, tortura e esterilização forçada“.
Segundo a BBC News, existem cerca de 12 milhões de uigures, maioritariamente muçulmanos, a viver no noroeste da China, na região de Xinjiang. De acordo com o site de notícias britânico, têm surgido relatórios que dizem que, além de internar uigures em campos, a China tem esterilizado em massa mulheres uigures à força para suprimir a população e separar as crianças uigures das suas famílias. O Australian Strategic Policy Institute encontrou evidências, em 2020, de mais de 380 desses “campos de reeducação” em Xinjiang, um aumento de 40% em relação às estimativas anteriores.
Em 2019 foi revelada uma série de documentos secretos do Governo chinês, obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que revelava pela primeira vez que Pequim levava a cabo um extenso programa de lavagem cerebral a centenas de milhares de membros de minorias étnicas muçulmanas numa rede de campos de detenção de alta segurança. Numa investigação conhecida como “China Cables”, o consórcio dava a conhecer o testemunho de antigos reclusos que relataram os abusos cometidos nos campos.
As suspeitas não são novas e a China tem sempre vindo a negar estas acusações, alegando estar a disponibilizar um programa voluntário com o intuito de prevenir o terrorismo e erradicar o extremismo islâmico.
Artigo revisto por Miguel Tomás
Fonte da foto de capa: Emrah Gürel AP
AUTORIA
A Adriana é uma aspirante a jornalista, paixão que só descobriu tardiamente. Conjuga empatia e perseverança. Não gosta de arriscar, mas faz por isso. Determinada em abraçar novos desafios e em busca de boas histórias para contar.