Os meus pelos, as minhas regras
Hoje trago um tema que, ainda que não o considere, é ainda muito discutido como sendo um tema “polémico”: pelos. Infelizmente, em pleno século XXI ainda damos por nós a chegar a esta altura do ano com a pressão do “Não levo um vestido porque não tirei os pelos”. Perdoem-me os rapazes que leem este artigo, mas é mais que sabido que existe uma maior pressão sobre as raparigas e sobre o mais ínfimo pelo que se possa notar nos seus corpos.
Vou, inclusive, partilhar convosco um episódio que me aconteceu: os meus pelos das pernas sempre foram muito clarinhos e eu não via necessidade de os tirar, mas no meu 6.º ano (e faço aqui a ressalva que tinha 11 anos, o que para mim significa que ainda era uma criança) um rapaz mais velho da minha turma disse-me, sem quaisquer papas na língua: “Já tiravas esses pelos, não?”. A primeira coisa que fiz quando cheguei a casa nesse dia foi passar uma gilete nas pernas e certificar-me de que não se via a mínima ponta de pelo possível, ao mesmo tempo que na minha cabeça ecoava aquela frase. O certo é que não são só os miúdos de 15 anos que fazem estes comentários, os mesmos miúdos que desculpamos por estarem na idade “parva”.
À semelhança deste episódio, recordo-me de que num reality show uma das concorrentes, sem qualquer pudor ou preconceito, exibia os seus pelos como parte integrante do seu corpo. Esta situação gerou uma grande polémica, pois houve quem tivesse dito à concorrente que esta não arranjaria um namorado por ter pelos nas pernas, falou-se, inclusive, de nunca se ter visto a Cinderela com pelos. De facto têm razão, nunca uma princesa da Disney surgiu com pelos nas pernas, o que só reforça o cultivo desta cultura que se resume em corpos perfeitos e peles lisas. Como se isto fosse o natural de um corpo adulto! O natural é tê-los, que surgem com uma determinada função, ainda que haja quem os considere inúteis (também está tudo bem se os quiseres tirar). Ainda sobre este tópico, fui fazer uma pesquisa intensiva e descobri que existem tantas formas de tirar pelos como feitios destes. Existe a depilação, que consiste em retirar os pelos através de uma técnica de corte, por exemplo, com o uso de uma lâmina, ou até mesmo, dos cremes depilatórios e existe, também, a epilação. Esta consiste em arrancar os pelos pela raiz e é aqui que surge a tão conhecida e dolorosa depilação a cera. No entanto, se não os quiseres nem cortar, nem arrancar, podes disfarçá-los com a ajuda de cremes para clarear os pelos, ou se não te incomodam de todo, deixa-os como estão.
Relacionado com a questão da pele lisa e da depilação milagrosa, também quero falar daquilo que se começa a assistir mais nesta altura: os anúncios à gillette Vénus com a maravilhosa Bárbara Bandeira. De facto, a cantora tem uma pele linda, um corpo estrutural e brilha por todo o lado, mas digam-me se na vossa cabeça faz algum sentido que se veja a rapariga passar uma gilete onde não existe qualquer pelo. Outras marcas, como por exemplo a Veet, já começam a mostrar a realidade, a mostrar os pelos e um antes e depois um bocadinho mais real.
Outra coisa que tenho de dizer é que, não, ter pelos não é uma questão de falta de higiene, ainda que haja quem pense que sim. Os pelos, especialmente púbicos e das axilas, são muito associados a alguém que não se cuida, mas, na verdade, é alguém que se está a cuidar e proteger. Relembro que se os pelos estão lá, por algum motivo é, estes acabam por funcionar como uma barreira protetora para possíveis infeções, especialmente no corpo feminino devido à estrutura natural dos seus genitais. Quanto aos pelos das axilas, há quem diga que sente um cheiro mais intenso a suor quando os tem, no entanto, os agentes responsáveis pelo odor são as bactérias e fungos. Mesmo que não tenhamos nenhum pelo visível, pode manter-se o tal odor. O segredo aqui, como é óbvio, é manter uma higiene regular, utilizar produtos adequados e não deixar as axilas húmidas.
Por fim, recordo-te de que no teu corpo mandas tu e nunca, jamais, alguém pode dizer-te para tirares os pelos seja de onde for, apenas tu decides quando precisas e se precisas de os tirar. Para todos aqueles que se sentem enojados com um pelo do tamanho de uma pestana numa axila ou virilha: Meus caros amigos, mudem o chip, por favor! Às restantes pessoas: sejam felizes, com pelos, sem pelos, com pelos cortados, com pelos arrancados, disfarçados, e lembrem-se, sempre: os vossos pelos, as vossas regras.
Fonte de capa: The Sun
Artigo revisto por Mariana Saião
AUTORIA
Todos os artigos têm o meu toque pessoal, de modo a criar uma relação de proximidade com o leitor e para que se perceba que quem escreve é igual a quem lê. Tento ao escrever direcionar-me a todos, no geral, mostrando que um artigo de moda e lifestyle pode ser lido por todos os que o desejem. O mundo ainda é retrógrado sobre determinados temas, que nem o deviam ser, e gostava que pudéssemos um dia dar as mãos, no sentido de nos unirmos ainda mais para que vivêssemos sem conflitos e com paz.