Artes Visuais e Performativas

História do Teatro: Teatro de Revista em Portugal (Pt.1)

Lisboa, 1851.

Imagina a capital nessa época, rodeada de ideias vindas de França, incluindo a cultura. Na altura, só dois teatros se encontravam abertos na cidade: o Teatro D.Maria II e o Teatro do Ginásio. Neste último teatro, no dia 11 de janeiro às 21h estreia a primeira revista portuguesa: Lisboa em 1850. Esta peça já contava com algumas críticas à política, o que não agradou a Costa Cabral, chefe do Governo de então. No entanto, a obra só fazia sentido ser apresentada ali, na apelidada “fábrica dos sonhos”.

Teatro do Ginásio Fonte: Arquivo AML

O teatro de revista, ao contrário do pensamento popular, é criado nas periferias de Paris. Esse “centro cultural” era onde existia a maior parte dos teatros e dos divertimentos noturnos da capital francesa. No final de cada ano, era comum os teatros fazerem um apanhado dos pontos mais altos daquilo que tinha acontecido durante o ano e encená-lo de forma satírica para trazer comédia e alegria para a comunidade parisiense de então.

Em 1856, houve o primeiro grande sucesso do teatro de revista em Portugal apresentado no Teatro do Ginásio com a peça Fossilismo e Progresso. Aqui sentem-se os primeiros “estragos” causados pela revista, quando a Universidade de Coimbra se alia ao fossilismo e resiste ao progresso da época.

 Teatro do Ginásio, 1944 Fonte: Eduardo Portugal

Através de escritores como António de Menezes ou Sousa Bastos, a revista “amadurece”, tornando-se cada vez mais interventiva. Sousa Bastos é considerado um dos homens mais importantes no mundo da revista porque ele reforma o género, onde a música passa a ter um lado primordial. Com a revista Tim Tim por Tim Tim cria a fórmula da revista, que vai perdurar até à implantação da República.

A revista adapta-se aos novos tempos após a implementação da República para dar espaço ao espírito republicano. Durante a Primeira República, a revista teve uma grande mudança, albergando, ao contrário dos restantes países onde existia este género, a alma do país.

De 1926 a 1945

No final dos anos 20 do século XX e no início dos anos 30, a modernidade começa a fazer parte do teatro de revista à portuguesa. Com o golpe militar, a 28 de maio de 1926, instaurou-se uma ditadura militar. A primeira revista, Ás de Espada, retratava exatamente a história do movimento que levou a cabo o golpe que derrubou a Primeira República. 

A revista continuou a ser o estilo predileto do teatro português, isto porque era capaz de fazer crítica social, mesmo na altura da censura, sem que o poder político se apercebesse da mesma. 

Fonte: Museu do Fado

Durante a ditadura militar foi dito que não iria ser criado um código de censura ou uma polícia política, mas, com a chegada do Estado Novo, em 1933, a revista vai disfarçar, por entre os fatos extravagantes, aquilo que a censura não a permitia demonstrar. 

Algumas revistas tentaram adaptar-se aos novos tempos. Um desses exemplos é a revista Cabaz de Morangos, que exaltou o lirismo rural, o que fez as delícias do regime. No entanto, a censura ainda fez estragos. A música mais conhecida desta revista, Dia de Espiga, acabou por ser censurada devido ao seu teor erótico que não coincidia com os ideais do regime.

Fonte: Museu do Fado

A revista Água Pé marca uma mudança no género teatral da época. Além da junção de vários cenógrafos modernistas, como já tinha sido feito na revista 7 ½, esta é a primeira revista que apresenta dança como parte do seu espetáculo. Esta revista muda tanto a narrativa das revistas como a sua estética. 

Além de todas as mudanças que o género sofreu, o teatro de revista recebeu uma nova “personagem”: Salazar. Esta “personagem” existia em qualquer outra que tivesse características como não dar nada a ninguém ou não se rir das piadas das restantes personagens.

Alguns dos atores que ficaram reconhecidos nesta altura foram grandes nomes do teatro e do cinema português, como: Ribeirinho, Beatriz Costa e Vasco Santana. Atores, encenadores e investigadores de hoje em dia caracterizam a atriz Beatriz Costa como parte do povo português, por ser muito ligeira e ter aquela personalidade muito saloia.

Beatriz Costa, 1934. Fonte: Wikipédia

A censura tinha as suas diferenças dependendo dos censores. Um excerto de uma peça mais politicamente ousado podia passar pela censura e no ano seguinte ser cortado. A partir de 1933, a censura é reforçada e a partir deste momento os números do teatro de revista ficam mais criativos para tentar fugir à mesma.

No fim da década de 30, os censores passam a ser críticos de teatro, dramaturgos e encenadores, que reconhecem como certas palavras podem ser interpretadas em palco. Dessa forma, a revista passa por um período de “calar o bico”. 

Em 1939, inicia-se a Segunda Guerra Mundial, mas as suas influências não foram sentidas no teatro de revista em Portugal. Apesar da neutralidade expressa por Salazar sobre o conflito armado, rapidamente se percebeu o seu ponto de vista quando o número Maria de Portugal, que demonstrava apoio a Inglaterra, foi cortado e proibido. Este demonstrou ser um período muito negro na História do Teatro de Revista em Portugal.

Se queres saber mais sobre a história deste género teatral, descobre na parte dois no artigo do próximo mês!

Fonte da capa: Orlando Almeida/Global Images

Artigo revisto por Bruna Meireles

AUTORIA

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Ao ingressar em Jornalismo na ESCS, a Flávia decidiu juntar a sua paixão pelas artes a uma segunda paixão: a escrita. É apaixonada pelo teatro e nela poderás encontrar uma enciclopédia dos melhores teatros musicais que podes ver. Gosta de dizer que é uma pessoa artística, pois já pisou os palcos de três formas: a dançar, a representar e a cantar. Agora dá palco a outros artistas escrevendo sobre eles e a sua arte.