Cyberbullying: Os limites da liberdade de expressão
O que é o cyberbullying?
A crescente exposição da vida diária de cada um, derivada da evolução das redes sociais e da internet, trouxe tanto contributos positivos como negativos. Nos dias de hoje, os grandes acessos fazem com que qualquer pessoa tenha a oportunidade de dizer o que quiser a quem quiser.
Por um lado, esse acesso foi deveras positivo, visto que aumentou a possibilidade de livre expressão e contribuiu para a aproximação entre pessoas. Por outro lado, esta possibilidade de livre expressão também contribui para o crescimento do “ódio gratuito” entre pessoas através da internet.
Para descrever este conceito de “ódio gratuito” praticado através do mundo virtual, utilizamos o termo cyberbullying, que descreve situações de abuso de poder, de forma física ou psicológica, que implicam agressões, discriminação, assédio ou ameaças por parte de alguém a uma vítima.
Quais os sinais de alerta nas vítimas de cyberbullying?
Apesar de esta forma de bullying ser praticada de maneira virtual, é importante termos a noção de que as consequências do mesmo são reais e graves. As vítimas de cyberbullying apresentam sintomas de depressão e ansiedade, tal como outros efeitos negativos na saúde física e psicológica, podendo até conduzir ao sucídio.
Existem, então importantes sinais de alerta que têm sido associados às vítimas de cyberbullying, como a identificação de sentimentos de zanga, tristeza, frustração, raiva ou ansiedade quando utilizam o computador ou o telemóvel; o evitamento do uso de meios tecnológicos; a resistência em ir à escola ou sair de casa.
O que fazer caso sejamos vítimas?
Em primeiro lugar, devemos sempre ter ocorrente que a lei portuguesa considera atos de bullying/cyberbullying crime. Qualquer pessoa com mais de 16 anos, que cometa crimes definidos como bullying/cyberbullying, está sujeito a penas até 5 anos. Sendo que no caso de as agressões provocarem a morte da vítima, a pena seria entre os 3 e os 10 anos; quando existem ofensas graves à integridade física, a pena seria estabelecida entre os 2 e os 8 anos.
Com isto, coisas como reportar a agressão, não partilhar dados pessoais ou guardar as mensagens e os ataques de cyberbullying, são alguns atos que podem ajudar as vítimas. Mesmo que por vezes seja complicado encontrar a coragem para reportar este tipo de ocorrências, devemos tentar ao máximo fazê-lo, pois sofrer calado apenas contribui para uma piora agravante da situação.
Após percebermos o que é o cyberbullying e as consequências que isso espelha nas vítimas, a pergunta que devíamos fazer é: porquê? Eu pessoalmente não consigo perceber por que motivo alguém sente a necessidade de humilhar e prejudicar, de forma tão grave, a vida de outrem apenas por não concordar com a sua maneira de ser. Sinto que hoje em dia, as pessoas confundem bastante a liberdade de expressão com o direito de dizermos o que quisermos sobre a vida de alguém. No entanto, existe uma linha a separar estes dois conceitos, pois apesar de termos o direito à livre expressão, esta acaba quando a do outro começa.
Um dos casos mais falados recentemente relativo ao cyberbullying foi o caso do ator Manuel Moreira que expôs um vídeo na sua conta de Instagram onde partilhou mensagens que recebeu em forma de vídeo e texto, para demostrar os ataques que recebe devido à sua homossexualidade. Estas mensagens foram enviadas por um grupo de rapazes ao ator de forma privada, o qual decidiu partilhá-las com os seus 23 mil seguidores. A publicação rapidamente se tornou viral. Manuel Moreira, de 38 anos, referiu que optou por expor a situação pois os ataques devido à sua sexualidade são recorrentes.
O ator refere que “apesar de isto já não me afetar, lembro-me sempre dos miúdos que eu conheço e dos que eu não conheço, mas que podem estar a passar por isto (…) É um exemplo crasso de como o bullying é exercido. A energia que está naquele vídeo é a mesma energia, tom e formato dos episódios de bullying tanto na internet como ao vivo nas escolas do país inteiro, nas paragens de autocarro, onde as crianças vão e são confrontados com estes ataques diariamente como eu fui quando era miúdo”.
Posto isto, é essencial percebermos que o cyberbullying é sim uma forma de agressão que como todas as outras acarreta consequências, e que desculpas como “era uma brincadeira” ou “é apenas a minha opinião” não invalidam o sofrimento das vítimas.
Artigo revisto por Inês Pinto
Fonte da imagem de destaque: Freepik
AUTORIA
A Beatriz nasceu e cresceu no Algarve e talvez por isso tenha um grande carinho pelo mar. Ingressou em Relações Públicas e Comunicação Empresarial na Escola Superior de Comunicação Social e sempre teve um grande gosto pela escrita e pelo benefício de levar informação a todos. Procura, juntamente com a ESCS Magazine, ter oportunidade de fazer algo que gosta e partilhar informação ao mesmo tempo.