Juventude Inquieta: uma utopia de diferentes gerações
Na maravilhosa Sala Garret do Teatro Nacional D.Maria II esteve em cena a peça “Juventude Inquieta” até dia 31 de outubro. Esta peça, inspirada na obra A Cidade das Flores de Augusto Abelaria, faz uma interpretação diferente do livro representando nesta obra através de uma espécie de criação de um filme amador.
Assim que entramos na sala deslumbrante reparamos que o pano está aberto e que alguns dos atores andam de um lado para o outro em cima do palco como se estivessem a arranjar os adereços e cenário envolventes. Numa primeira instância nem nos apercebemos que os atores em cima de palco são realmente atores, pensamos que são apenas assistentes de produção da peça. No palco, vemos também uma câmara de vídeo que se encontra virada para o público e as imagens aparecem projetadas num pano no fundo do mesmo.
As luzes não se apagam imediatamente, daí não percebermos que o espetáculo começou, e o público é incluído como se fosse uma personagem crucial para a realização da peça, sendo são considerados figurantes remetendo várias vezes para frases como: “Nós só os temos por mais 2 horas.”
O cenário é simples para retratar um estúdio de gravação de cinema feito com vários “andaimes” e muitas vezes o uso de multimédia em conjunto com o cenário envolvente em cima de palco dá a sensação ao público de estar a ver a produção de uma série ou de um filme.
O vestuário típico da altura dos fascismos faz-nos transportar até àquela época sem nunca realmente sairmos do século XXI devido aos diversos apartes feitos pelas personagens diferentes.
Sendo que o livro que inspirou a peça retrata a Itália na época do fascismo (na realidade era para retratar Portugal, mas Augusto não podia escrever sobre a realidade portuguesa sem o livro ser apreendido pela Censura), conseguimos identificar três gerações específicas retratadas na peça: os que fizeram a Revolução dos Cravos; os filhos da Revolução e os jovens que nasceram no fim do século XX/ início do século XXI.
As diferenças entre estas gerações são bem representadas e conseguem perceber-se quais são, no entanto, também há uma certa compreensão das gerações mais velhas para com a geração mais nova onde eles compreendem as nossas lutas e dramas enquanto jovens do século XXI.
Há uma crítica severa ao fascismo crescente na Europa nos últimos tempos, sendo a extrema direita portuguesa criticada com muito mais severidade. A chegada de informação também é um dos tópicos retratados na peça quando uma das personagens mais velhas relembra os tempos de clandestinidade dos partidos de esquerda em Portugal e a informação circulava de forma mais lenta, ao contrário do que acontece agora com a Internet.
Fica a saber mais sobre a peça através das palavras da encenadora:
Espero que este artigo te deixe a pensar!
Bons espetáculos!
Foto de capa: Filipe Ferreira
Artigo revisto por Inês Pinto
AUTORIA
Ao ingressar em Jornalismo na ESCS, a Flávia decidiu juntar a sua paixão pelas artes a uma segunda paixão: a escrita. É apaixonada pelo teatro e nela poderás encontrar uma enciclopédia dos melhores teatros musicais que podes ver. Gosta de dizer que é uma pessoa artística, pois já pisou os palcos de três formas: a dançar, a representar e a cantar. Agora dá palco a outros artistas escrevendo sobre eles e a sua arte.