De simples anónimos a ícones de moda. O poder dos influenciadores nas nossas escolhas de moda
Se antigamente as modas eram seguidas pelas revistas, onde figuravam atrizes de Hollywood ou outras celebridades como a princesa Diana, hoje em dia, em pleno século XXI, as redes sociais tornaram-se na passerelle onde as celebridades e as não celebridades desfilam. As atenções foram-se desviando para anónimos que começaram a surgir e a fazer furor, os chamados influencers. Se é certo que o caminho de muitos deles começou em blogs ou em canais de YouTube onde partilhavam com os poucos seguidores os seus looks diários de maquilhagem ou roupas, também é certo que hoje em dia as proporções que tomaram são muito diferentes. Enquanto no início o seu intuito era o de uma partilha diária, atualmente essa partilha tornou-se num poder capaz de influenciar milhares de entusiastas que os seguem religiosamente. Mas até onde vai essa força e o que é que ela nos leva a fazer?
Comecemos pelo início: a memória remete-me para 2014, ano em que criei Instagram e entrei no mundo digital, explorando também em força o YouTube. Muitos daqueles que partilhavam vídeos nesta plataforma tinham começado antes por escrever em blogs, mas a dinâmica dos vídeos ultrapassou a leitura de posts. Surgiam já alguns nomes como Inês Rochinha, Maria Vaidosa, Anita Palito ou Niina Secrets, do outro lado do oceano. Por esta altura, a sua posição nas plataformas digitais passava muito pela partilha simples de dicas de moda ou de maquilhagem e também desafios ou as chamadas “tags”.
Foi esta postura simples, de quem partilha connosco o que sabe sobre um tema e o que faz no seu dia a dia, que fez com que o seu sucesso fosse cada vez maior. De facto, estas pessoas possuem, para além da boa capacidade de comunicação, uma outra característica que faz deles poderosos líderes de opinião: a empatia. O facto de qualquer pessoa se sentir identificada e compreendida por eles faz com que se ganhe confiança e se lhe atribua imediatamente credibilidade. As marcas atentas a esses aspetos decidiram começar a apostar nestas novas estrelas da Internet, aproveitando a notoriedade das mesmas para, lentamente, ganharem terreno no mundo digital. Assim, o hobby preferido de algumas destas figuras tornou-se no seu emprego.
Se na vida delas mudou o seu rumo profissional e a sua notoriedade, o que é que elas mudaram nas nossas vidas? Qual é o poder que exercem sobre as nossas escolhas?
Para nós, seguidores, criou-se, sobretudo, um mundo de inspiração, principalmente na área da moda. Recorremos às páginas deles sempre que não sabemos o que vestir ou sempre que queremos aproveitar os saldos para comprar algumas peças. Apesar de mantermos a nossa individualidade, o poder de persuasão deles é tão grande que nos leva a gostar de estilos de que não gostávamos ou a aceitar melhor uma peça diferente só porque achámos que neles ficava bem. Temos como exemplo a Helena Coelho, nome indissociável quando se fala de influencers, capaz de esgotar simples camisolas da Zara minutos após a ter mostrado nos stories, não sendo sequer patrocinada pela marca. Quem não se lembra da camisola de malha com botões na zona do ombro? Ou do vestido canelado simples que usou quando foi ao Programa da Cristina? O facto de não estar a ser paga faz com que os seguidores lhe atribuam ainda mais valor, pois mostra que não publicita apenas produtos para os quais é recompensada, mas também aqueles de que realmente gosta. O poder de qualquer peça que usa é tão grande que criou uma página inteiramente dedicada aos seus looks, onde mostra as referências de cada peça usada.
E quando se fala do poder de metro e meio, vem-nos também à cabeça a Inês Rochinha, já referida acima, a rainha das mudanças de cabelo é aquela mulher arrojada que dá coragem às suas seguidoras para alterarem o seu visual. Acompanhando o seu cabelo, também os seus conjuntos são versáteis: por vezes simples, outras vezes mais arriscados e fora da caixa. Mas foi em 2019, com o lançamento da sua marca By Inês Rochinha, quea sua influência se materializou, recebendo dezenas de encomendas e esgotando em pouco tempo algumas peças da coleção. Para além de trazer ao mundo mais um bocadinho de si mesma, a Inês conseguiu deixar muitas das suas seguidoras a usar as peças por ela desenhadas e pensadas, fazendo com que todas partilhassem um acessório. Esse é o efeito Inês Rochinha, mas também é o efeito de uma influencer na verdadeira aceção da palavra.
Todos aqueles que estão do outro lado do ecrã e que seguimos diariamente conseguem ter mais poder nas nossas escolhas do que realmente percecionamos, talvez por estarmos de tal maneira infiltrados nesse mundo, acabamos por desvalorizar pequenas coisas que, no fundo, só fazemos por mera influência. Os influenciadores digitais, como são chamados em Portugal, conseguem mover multidões em prol de vários temas – um deles é a moda.
Artigo revisto por Constança Lopes
Fonte da foto de capa: Criadores
AUTORIA
Luísa Montez é redatora da ESCS Magazine desde novembro de 2020, tendo começado por escrever apenas para a secção de Moda e Lifestyle. Após o sucesso do seu artigo escrito, excecionalmente, para a secção de Grande Entrevista e Reportagem, decidiu aceitar o convite e fazer parte da mesma. Antes de entrar na ESCS já sabia que queria pertencer à revista, pois a escrita é um dos seus pontos fortes.