O jornalismo é o reflexo da realidade?
Será que o jornalismo reflete a realidade ou apenas a constrói? A situação de guerra na Europa à qual estamos a assistir neste momento mostra que muitos assuntos têm sido deixados de lado, uma vez que, nos últimos tempos, a cobertura do conflito tem sido o foco de todos os noticiários.
Apesar da importância deste tema, muitos outros assuntos têm sido negligenciados. Quem não pensar acerca desta questão vai acreditar que já não se passa nada. Deixou de se falar da pandemia. O número de casos por Covid-19 deixou de ser uma preocupação diária. A nível internacional, por exemplo, a dura realidade vivida pelas mulheres no Afeganistão deixou de ser um tema presente na opinião pública. Este foi um assunto muito falado, mas apenas porque estava na ordem do dia.
Até que ponto um jornalismo que serve audiências continua a ser um jornalismo de serviço público?
O jornalismo positivo
O próprio conceito de jornalismo positivo parece estranho. É como se fosse necessário criar um jornalismo à parte daquele que já conhecemos para aliviar a percepção que existe sobre esta área. Porque não podemos simplesmente enquadrar este tipo de jornalismo nos noticiários?
Por exemplo, conhecemos os países mais pobres apenas pela sua pobreza, porque é a informação que nos chega. Contudo, há muitas coisas boas a acontecer nesses lugares e, apesar da dura realidade das condições de vida ter de ser contada, aquilo que é positivo também deveria ser um foco. Porque não existem mais iniciativas jornalísticas para dar a conhecer esses territórios através de reportagens ou entrevistas? Podia fazer a diferença mostrar interesse por estes países mesmo quando o motivo da notícia não é mau.
Sobretudo os mais jovens revelam a sua falta de interesse em ver ou ler notícias devido ao facto de os assuntos serem sempre marcados por histórias negativas.
O sensacionalismo
A própria forma como as notícias ou reportagens são apresentadas, muitas vezes, abre espaço para esse afastamento. O sensacionalismo continua a estar muito presente no jornalismo. Cabe ao jornalista decidir se quer apresentar a história de forma ética ou não.
Trata-se sempre de uma escolha. Entrevistar alguém para dar a conhecer uma parte da sua vida menos boa e que tenha interesse público ou denunciar casos de abuso sexual ou violência doméstica é necessário. No entanto, não acrescenta absolutamente nada decidir fazer um plano aproximado dessa pessoa que está a relatar a história e que se mostra visivelmente afetada.
Fazer questões a alguém que acabou de perder um ente querido também não tem grande sentido. Perguntar como é que a pessoa se sente com essa perda é uma forma de jornalismo que serve apenas audiências e que não tem qualquer tipo de relevância.
O dever do jornalista é contar histórias, mas não vale tudo. Tem de existir respeito e empatia. É necessário existir a vontade de agir bem. O bom jornalista não vai atrás de audiências, mas sim da verdade. A verdade implica falar sobre o que acontece no mundo e não resumir a realidade a um tema polémico. A verdade exige contar histórias pela sua relevância ao nível do interesse público e não do interesse do público.
Fonte da capa: Thomas Charter (Unsplash)
Artigo revisto por Daniela Leonardo
AUTORIA
Iniciou o seu percurso na ESCS Magazine, porque sempre procurou ter liberdade para escrever sobre a realidade à sua volta e para partilhar a sua opinião com as outras pessoas. A paixão pela escrita sempre esteve presente na sua vida. Agora, enquanto editora de música procura fazer-se ouvir através das suas palavras!