Wrath of Man: mais um verso na poesia de filmes de Jason Statham
Já é de esperar que o talento de Jason Statham nos confunda sobre o seu verdadeiro eu e as suas personagens fictícias. Cada vez que aparece no grande ecrã é como se desse sempre uma certa continuidade à personalidade da personagem anterior, mas numa outra dimensão completamente diferente, o que me faz afirmar que, nos dias de hoje, o seu talento é algo incapaz de ser discutido. Ademais, apesar de os diretores de cinema teimarem em dar a Statham o papel do homem forte e calculista, há sempre algo na sua história que nos faz ter uma ligação à sua personagem, o que lhe deu espaço para crescer enquanto ator. Ao longo dos anos foi recebendo o devido mérito e reconhecimento no mundo do cinema.
Wrath of Man (Um Homem Furioso em português) é o seu mais recente filme. Saiu nos cinemas portugueses no dia 25 de maio deste ano e conta com quase duas horas de produção, com cada minuto cheio de ação e mistério. Em pouco mais de um mês de filme (saiu nos Estados Unidos da América no dia 7 de maio) já recebeu 7,2 estrelas em 10 no IMDB e as críticas positivas sobrepõem-se às negativas, pois a personagem de Statham está, mais uma vez, impecável. Dirigido por Guy Ritchie, Wrath of Man nasceu de um texto que o mesmo escreveu com Ivan Atkinson e Marn Davis, que se baseou superficialmente no filme Cash Truck de Nicolas Boukhrief.
O filme divide-se então em quatro partes e retrata a maneira calculista como Patrick Hill, também conhecido por H, (protagonizado por Jason Statham) procura pelo culpado da morte do seu filho, Dougie. Contudo, não é este cenário que vemos no começo do filme. Na primeira parte, intitulada A Dark Spirit, Patrick candidata-se a um emprego na Fortico, uma empresa de carrinhas que transportam dinheiro. Este título carrega o peso da alma de Patrick e, ao longo da produção, vamos entender o porquê deste nome, que lhe é atribuído pelos companheiros depois do mesmo demonstrar a sua habilidade com armas, o que dá a entender que o seu passado não é tão simples como dizia ser.
Contudo, é aqui que o tempo nos começa a baralhar. Scorched Earth é o nome da segunda parte e recua cinco meses, tempo onde Dougie ainda era vivo. A relação de pai e filho que nos apresentam demonstra ainda mais o porquê da simpatia que temos com as personagens de Jason Statham e Dougie, protagonizado por Eli Brown, que faz um excelente papel no tempo de ecrã que lhe foi atribuído. É também nesta parte que começamos a descobrir um pouco mais da vida de Patrick antes do seu emprego na Fortico, e o seu plano e o mistério de quem matou Dougie começam finalmente a ser desvendados.
Já a terceira parte do filme, Bad Animals, Bad, é um mundo completamente à parte. Novas personagens, novos enredos, novos propósitos. Tudo o que vemos aqui vai levar-nos até ao momento inicial e são as respostas que tanto Patrick como nós precisávamos. No início poderá não fazer sentido esta mudança de produção, mas garanto que, para a sua contextualização, era mais do que necessária.
Não posso mentir e dizer que o filme não precisa da máxima atenção do telespectador, porque precisa. Se não existir esforço por quem está do outro lado do ecrã a assistir as datas podem ficar confusas, pois o filme anda para trás e para a frente nas quatro partes em que se divide. Se algum conteúdo ficar perdido no tempo o filme deixa de fazer sentido e só a meio é que descobrimos que tudo isto é por causa da morte de Dougie, o seu filho, então tudo o que vem antes já vem depois deste acontecimento. Sei que é confuso, mas o plot do filme é algo realmente muito bom que não pode simplesmente ficar perdido.
Além disso, H está quase completamente sozinho. Divorciado e sem filhos, o único amigo que, eventualmente, poderia ter é um dos vilões da história, e sem ser isso tem duas ou três pessoas da sua equipa antiga, antes de isto tudo acontecer. Não sabemos a história desta equipa nem o que faziam, mas aparecem muitas vezes antes e depois da morte de Dougie, com várias cenas violentas à mistura. O passado misterioso de Patrick começa a desvendar-se lentamente e tudo o que vemos antes da cena do falecimento do seu filho começa a fazer sentido.
Quem também integra este elenco, com um vasto leque de atores experientes, é Scott Eastwood, que protagoniza Jan na ação, aparecendo tanto na terceira como na quarta parte. Dou destaque a esta personagem, pois vai acabar por ser o grande foco de Patrick no final, já que, em grande parte, é graças a ele que a terceira parte deste filme existe. O foco em Jan também se vai alastrar muito ao longo do filme e ele acabará por ser uma das personagens principais desta produção, fazendo parte de praticamente toda a quarta parte.
Por fim, o mistério envolvente ao longo do filme vai-se desmitificando aos poucos e a história começa a fazer mais sentido do que no início. As perguntas que ficaram na nossa cabeça obtiveram uma resposta e tudo parece ficar bem quando acaba mais ou menos bem, pois num filme de crime e ação os finais não são propriamente cor de rosa. Este é realmente o tipo de filme que vais querer ver no cinema e, se já estás com a pulga atrás da orelha, deixo-te então o nome da quarta parte aqui a pairar: “in summary: the liver, the lung, the spleen, the heart”.
Artigo redigido por Inês Policarpo
Artigo revisto por Adriana Alves
Fonte da imagem de destaque: Glints
AUTORIA
Quando era pequena a Inês queria ser decoradora de interiores. Hoje, está a tirar uma licenciatura em Jornalismo. A vida tende a surpreendê-la, mas ela não se deixa surpreender. Curiosa, otimista e sempre disposta a ajudar, a comunicação veio dar uma nova perspetiva à vida de Inês: venha ela de que forma for, será sempre a melhor maneira de estar conectada com o mundo.