Cinema e Televisão

A história inspiradora d’O Rapaz que Prendeu o Vento

The Boy Who Harnessed the Wind (em português O Rapaz que Prendeu o Vento) é um filme original britânico (inspirado no livro autobiográfico de William Kamkwamba com o mesmo nome) escrito e dirigido pelo ator Chiwetel Ejiofor, estrela do filme 12 Anos Escravo, também presente no elenco. Para quem nunca tinha exercido estas funções, o ator trouxe-nos, no dia 25 de janeiro de 2019, uma narrativa à qual ninguém consegue ficar indiferente: a história de William Kamkwamba, um rapaz de 13 anos que vê a sua aldeia a passar fome e, com aquilo que encontra no ferro-velho, constrói uma turbina eólica para criar energia e bombear água para plantar alimento. Com a duração de uma hora e 53 minutos, o filme começou a ser transmitido na Netflix em março de 2019 e tem vindo a ser cada vez mais reconhecido, fazendo com que Chiwetel Ejiofor ganhasse o prémio NAACP Image Award na categoria de Melhor Diretor, nesse mesmo ano.

Contudo, é necessário ter uma certa atenção enquanto se vê o filme. Não é difícil, pois a história em si já nos cativa, mas o facto de as personagens falarem em duas línguas diferentes faz com que os nossos olhos não se consigam desviar do ecrã. O inglês é falado quando se dirige a pessoas de fora da aldeia ou até mesmo a amigos, mas dentro da família Kamkwamba a língua predominante é a nianja, muito falada no Malawi, terra onde se desenrola esta história. 

A família Kamkwamba. Fonte: Sessão Cinema

Para contextualizar, esta narrativa passa-se no início da década de 2000, mais concretamente em setembro, por volta da altura do ataque às Torres Gémeas. Isto sabe-se porque no início do filme William vai buscar baterias para conseguir ouvir um jogo de futebol na rádio e, quando este se liga, a notícia que está a decorrer é a das horas dos ataques. Malawi era uma terra muito pobre naquela altura – todos os seus moradores tinham imensas dificuldades. As rádios estão constantemente presentes no filme, quer seja para animar as pessoas, quer seja para fazer experiências sobre eletricidade. Viviam em democracia, mas não se sentiam livres para expressarem os seus pensamentos, especialmente quando a seca começou. Fome, raiva, morte… tudo isto aconteceu num período de tempo onde o Malawi passou de estar por baixo de chuva para estar completamente sem alimento, sem terreno onde cultivar.

Os alojamentos mostrados ao longo do filme também não são os melhores. Vivem como podem e com o que têm, comendo aquilo que a terra lhes fornece. As dificuldades são bastante visíveis, mas isso não foi motivo para o pai de William baixar os braços. Este acabou por conseguir pôr o filho na escola, mesmo com todos os obstáculos financeiros e sem conseguir pagar as propinas. Foi nesta altura que o rapaz de 13 anos descobriu algo na ciência que provavelmente nunca tinha vivido: o sentimento de esperança. Aqui começa a jornada de William Kamkwamba, o jovem que deu à sua aldeia um novo motivo para sorrir.

William Kamkwamba e a sua turbona eólica. Fonte: Mundo Positivo

Confesso que o seu percurso não foi fácil e posso até dizer que foi um pouco doloroso, mas a força de vontade de William nunca o deixou sem pé. Lutou por aquilo que queria, lutou por uma vida melhor e lutou principalmente pelo seu povo. A forma como todos se reúnem à volta do pequeno rapaz que afirma conseguir trazer água é impressionante. Maxwell Simba, o jovem que interpretou William Kamkwamba, foi convidado a fazer este papel e agarrou-o com força, pois a forma como o interpreta não deixa ninguém com dúvidas: personificou esta personagem principal de forma esplêndida, sem transparências e com todas as emoções que poderia estar a sentir. É, sem hesitação alguma, uma verdadeira aposta no mundo do cinema.

Aquilo que os telespetadores veem foi a vida real de uma pessoa que viveu no mesmo mundo do que nós, mas sem a água e a eletricidade que nós intitulamos de bens essenciais. Este filme prova que os verdadeiros génios não precisam de muito para pôr em prática os seus conhecimentos e que desistir não é uma opção. O verdadeiro William Kamkwamba formou-se no Dartmouth College, nos Estados Unidos da América, e nos dias de hoje, com 33 anos, é inventor e engenheiro. Foi ainda reconhecido em 2013 pela revista Time como uma das 30 pessoas com menos de 30 anos que mudaram o mundo. Além disso, existem três universidades nos EUA que utilizam o seu livro sobre a turbina eólica como parte da base escolar.

Artigo redigido por Inês Policarpo

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

Fonte da imagem de destaque: The Phraser

AUTORIA

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Quando era pequena a Inês queria ser decoradora de interiores. Hoje, está a tirar uma licenciatura em Jornalismo. A vida tende a surpreendê-la, mas ela não se deixa surpreender. Curiosa, otimista e sempre disposta a ajudar, a comunicação veio dar uma nova perspetiva à vida de Inês: venha ela de que forma for, será sempre a melhor maneira de estar conectada com o mundo.