A destruição em nome de quê?
A realidade da guerra voltou a atingir a Europa já depois das 03h30, hora em Portugal continental. As ameaças de Putin ao Ocidente, caso optassem por uma interferência no conflito, eram transmitidas praticamente ao mesmo tempo que se iniciavam os relatos de explosões nos arredores da capital ucraniana.
Várias pessoas foram obrigadas a deixar as suas cidades, casas e famílias para conseguirem fugir a uma guerra iminente. Dificilmente poderiam pensar que um dia iriam ver o seu país destruído em nome de algo que nem conseguem compreender.
É muito triste assistirmos do lado de cá a um conflito que tem posto um fim à vida de tantas pessoas. Sentimos impotência e custa-nos perceber que a História se repete. Parece que afinal não se aprendeu nada.
A guerra não acontece só na Ucrânia. O contributo mediático para contar estas histórias também silencia outras tantas das quais já não se ouve falar, mas que continuam a ocorrer. O que é transmitido nos meios de comunicação social é o que está na ordem do dia. Quando deixa de ser uma novidade, deixa de ter impacto. E esta escolha também é cruel.
As pessoas vivem angustiadas com o que se passa na Ucrânia. Não sei se isso se deve ao facto de ser uma guerra que está a acontecer na Europa – e ao consequente fator de proximidade – ou se realmente conseguem sentir empatia por este povo que, sem qualquer tipo de preparação, sai à rua para defender os seus país e cultura. Muitos civis têm sido treinados para combater na guerra, incluindo mulheres.
Trata-se de uma crise humanitária e toda a ajuda que possamos disponibilizar é bem-vinda. No entanto, ter uma opinião acerca desta guerra implica conhecer o enredo que a compõe. Não podemos basear a nossa opinião em posts de redes sociais, sem que nos procuremos informar devidamente acerca do assunto. Quer dizer: poder até podemos, mas não faz sentido.
O aproveitamento que tem existido por parte de alguns influencers – que se promovem através de uma falsa solidariedade para com o povo ucraniano e para com a guerra – é, no mínimo, desprezível.
Por outro lado, há exemplos que devemos valorizar. Na Rússia, onde a propaganda tem superado a verdade, uma jornalista recusou-se a dar notícias falsas e fez frente ao governo autoritário. Talvez seja este o grande desafio do jornalismo em países onde existe tanta manipulação da realidade.
A jornalista russa Marina Ovsiannikova interrompeu o principal programa de notícias do Canal 1, segurando um cartaz contra a guerra, no qual a frase “Não acreditem na propaganda! Aqui estão a mentir-vos” saltava à vista.
Marina Ovsiannikova compareceu no tribunal de Moscovo, acompanhada do advogado, Anton Gashinski, e acabou por ser condenada a pagar uma multa de 30 mil rublos (cerca de 256 euros). “Não reconheço a minha culpa. Continuo convencida de que a Rússia está a cometer um crime e que é o invasor da Ucrânia”, afirmou a jornalista no final.
Um dos correspondentes do jornal The Guardian na Ucrânia publicou uma fotografia de uma embalagem com neve dentro, em cima de uma fogueira. Segundo Lorenzo Tondo, a imagem foi recolhida em Mariupol e surge numa altura em que a cidade começa a ficar sem água, pelo que os habitantes têm de derreter neve para a beberem.
A cidade de Mariupol, no sul da Ucrânia, está a ser totalmente destruída pelas tropas da Rússia. Um teatro que albergava civis – entre eles crianças – foi bombardeado, assim como um hospital da região, dentro do qual havia reféns.
Em 22 dias de guerra, o número de refugiados estava perto de atingir os 3,2 milhões. São pessoas que procuram abrigo noutros países e que têm fugido, sobretudo, pelas fronteiras da Polónia e da Roménia.
A cidade de Kharkiv foi alvo de novos ataques. As forças armadas russas bombardearam um mercado, um armazém humanitário e duas escolas.
O exército russo atacou a cidade de Mykolaiv com três bombas de fragmentação, em três alturas diferentes no espaço de uma semana. A informação foi avançada pela Human Rights Watch, citada pela CNN. De acordo com aquela organização não-governamental, seis testemunhas relataram o sucedido e mostraram vídeos de áreas residenciais atingidas entre os dias 7 e 13 de março. A organização afirma que as bombas de fragmentação representam uma ameaça imediata para os civis, durante o conflito.
As pessoas estão a sofrer e a morrer. A repetição dos erros do passado é assustadora. Precisamos de compreender a gravidade do que está a acontecer. Não é só mais uma guerra. Não é só mais um conflito. Ficarmos indiferentes ao que se passa não pode ser uma escolha – seja na Ucrânia, no Afeganistão, na Síria, na Palestina ou em qualquer país que esteja em perigo. Não há distância quando estamos perante uma crise humanitária.
Fonte da capa: DW
Artigo revisto por Andreia Custódio
AUTORIA
Iniciou o seu percurso na ESCS Magazine, porque sempre procurou ter liberdade para escrever sobre a realidade à sua volta e para partilhar a sua opinião com as outras pessoas. A paixão pela escrita sempre esteve presente na sua vida. Agora, enquanto editora de música procura fazer-se ouvir através das suas palavras!