“Happier Than Ever”: Um álbum de contradições silenciosas
O segundo álbum lançado por Billie Eilish é composto por 16 canções e todas elas trazem reflexões sobre o percurso da artista.
O título do álbum “Happier than ever” contrasta com a imagem da capa, onde Billie aparece com lágrimas no rosto. Mais uma vez, nada é o que parece! A artista dá a entender que o título escolhido é mais uma vontade do que uma afirmação: “I’m happier than ever/ at least, that’s my endeavor.”
A artista procurou com este álbum mostrar o seu lado mais real e cheio de vulnerabilidades. Sem qualquer contribuição de outros produtores, cantores e compositores, o álbum é apenas realizado por Billie e o seu irmão Finneas, sentados ao redor de um piano, num quarto em Los Angeles.
A jovem artista fala sobre a autovalorização e a importância da privacidade, uma vez que, desde cedo, a sua vida tem sido alvo de escrutínio público e ainda hoje Billie está a tentar encontrar a melhor forma de suportar o peso da fama.
A primeira faixa do seu novo disco, “Getting Older“, revela que apesar de Billie estar a perseguir um sonho, ainda não se sente realizada pessoalmente. Este é um momento de procurar respostas. “Things I once enjoyed just keep me employed now”, afirma a cantora.
Billie Eilish mostra neste álbum que tem uma maior consciência sobre si própria. Conhece as suas possibilidades. Porém, também está disposta a explorar as suas limitações.
Este é um álbum de contradições silenciosas e prova que todo o sofrimento pelo qual a artista tem passado foi responsável pela sua transformação.
“Happier Than Ever” não sucumbiu a pressões. Billie Eilish, o ícone de uma geração e a vencedora das quatro categorias principais dos Grammy Awards, não procurou ceder às expectativas de uma indústria onde os artistas podem ser descartados consoante o interesse do público.
Billie está à procura da felicidade e é isso que o álbum representa. Com uma maior maturidade emocional, a artista fala sobre os “fantasmas” que derivam do peso da fama, da vida adulta e os relacionamentos abusivos.
A canção “Everybody dies” reforça a efemeridade da vida e que, perante essa noção catastrófica, também existe uma certa tranquilidade. Algumas canções falam mais connosco do que outras.
Este é um disco pop e electropop que junta elementos de jazz, R&B, techno, country, bossa nova, bedroom pop, trip hop, folk, electro, trap e sophisti-pop dos anos 90. As canções são marcadas por tempos lentos e arranjos minimalistas.
Os sons são diferentes, mas o álbum apresenta um equilíbrio com sentido de continuidade. A passagem de uma canção para outra mostra a evolução da artista, e este é um projeto coeso que não foge às ambições pessoais de Billie Eilish.
Em “Not my responsibility“, Billie fala com angústia e descontentamento sobre a objetificação do seu corpo pelos media e sobre o desejo do público para que ela corresponda aos padrões ideais de beleza. Nesta canção, a ideia de que os outros têm o direito de julgar a nossa imagem é confrontada por Billie.
Segue-se a faixa “Overheated“. Aqui a cantora valoriza o seu corpo e a sua imagem numa prova de autoaceitação: “And everybody said it was a letdown / I was only built like everybody else now / But I didn’t get a surgery to help out / ‘Cause I’m not about to redesign myself now, am I? / (Am I?) Am I? / All these other inanimate bitches, it’s none of my business / But don’t you get sick of posin’ for pictures / With that plastic body?”.
Billie tomou conta do seu passado e neste álbum faz notar o seu crescimento. Transformou os seus demónios em formas de amadurecimento e começou a dar os seus primeiros passos no sentido de valorizar as suas fragilidades.
Num álbum onde a criatividade impera, também a crua realidade dos seus pensamentos não passa despercebida.
A artista está livre de qualquer tipo de correntes e quis mostrar com as suas novas criações musicais que o importante é corresponder às suas próprias expectativas. A verdade e o poder das letras, a variedade de composições e o facto de Billie se manter fiel a ela própria fazem com que este álbum misterioso seja um choque de realidade que, ao mesmo tempo que magoa, também cura.
Fonte de capa: Divulgação
Artigo revisto por Miguel Tomás
AUTORIA
Iniciou o seu percurso na ESCS Magazine, porque sempre procurou ter liberdade para escrever sobre a realidade à sua volta e para partilhar a sua opinião com as outras pessoas. A paixão pela escrita sempre esteve presente na sua vida. Agora, enquanto editora de música procura fazer-se ouvir através das suas palavras!