O Cinema de Guerra: o Médio Oriente
Com o conflito na Ucrânia a dominar a conversa atual, um olhar retrospectivo sobre a guerra e as suas implicações tem surgido de maneira a perceber e racionalizar o que é, para muitos, algo incompreensível. Como tal, a interseção entre arte e a guerra tem sido uma das várias combinações discutidas durante este período. De que maneira é que estas se influenciam uma à outra? E qual é o papel da arte no desenvolvimento e memória da guerra?
Neste artigo, dividido em duas partes, buscaremos explorar esta interseção no cinema. Analisaremos como certos filmes retratam a Segunda Guerra Mundial e os conflitos no Médio Oriente. De que forma eles influenciaram/influenciam a opinião pública e qual foi a extensão de sua influência durante os confrontos.
Conflito do Iraque
Alguns anos após o 11 de setembro, o governo americano começou a recrutar estrelas de Hollywood para incentivar a adesão da população na luta americana no Médio Oriente. Quando vemos o tipo de estrelas escolhidas percebemos o tipo de mensagens que estavam a ser transmitidas. Julia Roberts, Tom Cruise, Robert DeNiro, todos ícones adorados universalmente e conhecidos pela sua persona simpática e correta. Estas mobilizações acabam por ilustrar uma posição por parte de Hollywood face ao conflito.
The Hurt Locker (2011) é um dos mais focados na conversa sobre a propaganda americana relacionada com a guerra do Iraque. Por um lado, alguns defendem que o filme não adota uma postura crítica face aos papéis de ambos os lados no conflito, mas sim uma postura filosófica, no que toca à constante presença americana em guerras. Outros apontam que a existência e divisão clara entre um vilão e um herói, assim como o uso de clichés pró-americanos acabam por situar o filme no território da propaganda. Contudo, com o passar do tempo, novos filmes surgiram para analisar esta glorificação do governo e para dar às audiências uma nova postura crítica sobre a posição americana nos vários conflitos em que participaram.
00:30 Hora Negra (2012)
Esse é o caso de 00:30 Hora Negra. O filme de suspense foi dirigido, produzido e escrito pelos mesmos criadores de The Hurt Locker. Ele aborda a caça realizada pelas forças americanas atrás do homem “mais perigoso do mundo”: Osama bin Laden. Inicialmente, o filme iria retratar apenas as estratégias e missões, porém, com a morte do terrorista em 2011, a produção teve de ser reformulada. No lugar de um trabalho tematicamente enraizado no ódio americano, que movera a busca, o filme adotou uma postura ambígua.
Acompanhamos, assim, uma gama completa de emoções associadas à ideia da guerra contra o terror. Desde a ingenuidade dos primeiros movimentos até ao espírito de vingança que levou à sua aparente vitória no final. Aparente, porque também é muito explorada a ideia de que aquele não era o tão desejado fim da guerra travada e que, no fundo, as forças americanas não sabiam o que fazer depois.
A personagem Jessica Chastain, uma agente da CIA Maya, é a encarnação de todos esses sentimentos. Ela trilha um caminho entre a fúria cega e sensatez, além de trabalhar excessivamente por uma causa que depois realiza ser infindável. O caminho de Maya é um tanto semelhante ao trilhado por partes da população americana. Cansados da guerra, quase não lembravam mais os motivos e a dor que os levaram à busca de sangue. No filme ficou claro como o exército americano não tinha tanta certeza sobre a situação como transparecia.
Além disso, a fúria não tinha mais força para justificar as atrocidades realizadas pelas forças americanas, como afogamentos e torturas durante os interrogatórios. O ódio deixou de ser capaz de guiar todo um país por caminhos incertos e inconsequentes no Médio Oriente e, para muitos especialistas dos mais diversos campos (desde cientistas políticos até cinéfilos), esse filme foi um dos marcos para o cansaço estadunidense perante o centro do mundo.
Hora mais Negra é um grande exemplo da força da sétima arte em acordar a opinião pública e movimentá-la. A sensibilidade que existe na arte é um veículo de comunicação que muitas vezes desprezamos, mas que é sensível ao ponto de influenciar as pessoas leve e profundamente.
Fonte da capa: laxantecultural
Artigo revisto por Madalena Ribeiro
AUTORIA
A curiosidade e o questionamento são naturais desde que se lembra. Da História até às artes, sempre tomou gosto por se informar e por compartilhar com outros as suas descobertas. Assim, ao mesmo tempo que o conhecimento e a comunicação surgiam como um estilo de vida, os caminhos jornalísticos e pelo mundo da comunicação social se apresentavam como os melhores a se trilhar.
Natural de Mafra, este estudante de jornalismo ainda não sabe o que quer ou vai fazer mas pode garantir que vai procurar respostas nas artes visuais. Amante de cinema, gostaria de um dia trabalhar em algo relacionado com a área, mas tal como foi dito anteriormente, ainda é uma incógnita… Talvez descubra no próximo filme! Gosta do escapismo e identificação que a arte nos traz, e acredita na importância de contar histórias sobre pessoas, quer seja numa série ou numa reportagem.