Cherry: A Inocência Perdida
Depois do sucesso que Anthony Russo e Joe Russo tiveram ao fazer vários filmes da saga Avengers, o mundo descobriu uma nova faceta destes irmãos. Cherry é um filme baseado no romance autoficcional de Nico Walker – onde este utilizou os seus próprios traços biográficos para os estruturar numa perspetiva ficcional – e tem como protagonistas Tom Holland e Ciara Bravo, dois jovens que acabaram por fazer um brilharete com estas interpretações.
O filme que saiu nos cinemas no dia 26 de fevereiro e no digital no dia 12 de março já conta com duas nomeações para prémios diferentes: Melhor Fotografia em Cinema, pela American Society of Cinematographers 2021, e Melhor Edição de Som – Efeitos Sonoros, pela Motion Picture Sound Editors 2021. Apesar disso, os telespetadores mais assíduos deixaram duras críticas aos irmãos Russo, acusando-os de compilarem vários filmes conhecidos, como Nascidos para Matar ou Jogos de Prazer, apenas num. Ainda assim, Cherry consegue ser um verdadeiro enigma e um forte candidato a continuar na nossa lista de filmes para ver.
Logo no início do filme, percebemos aquele que poderá ser o fim do mesmo, mas só mesmo no final é que entendemos todo o seu início. Parece confuso, mas este drama, com a duração de 2h20min, é dividido em sete partes e decorre entre os anos 2002 e 2021. Em cada uma das partes, vemos o progresso da vida do protagonista com a sua mulher, Emily, uma rapariga que conheceu na Universidade, e acabamos por ter vários momentos de romance, intriga e inquietação. Contudo, o que parece ser uma relação estável e feliz acaba por ser aquilo que o levará à exaustão: Emily decide acabar com a relação e, sem nenhuma ideia daquilo que queria fazer com a sua vida, o protagonista alista-se no exército. É a partir daqui que tudo começa a correr mal e o filme começa a fazer mais sentido.
Até aqui, nunca se disse o nome do protagonista, pois a verdade é que este nunca foi revelado. Cherry é sinónimo da perda de virgindade (neste caso, da guerra) e não o seu nome. É raro o telespetador se lembrar de que a personagem principal não tem nome; a história é demasiado cativante e perturbadora, o que nos leva a assistir até ao fim sem sequer saber o nome do protagonista.
Digo perturbadora porque, agora na parte três, as imagens que nos mostram são demasiado fortes. Os estragos da guerra são brevemente apresentados e conseguimos ver com toda a clareza muitos dos corpos e das caras completamente desfeitas. Isto fez com que o protagonista desenvolvesse PSPT (Perturbação de Stress Pós-Traumático) e o resto do filme foi feito com base nos seus sintomas: não dormia, tornou-se agressivo, consumiu drogas e roubou bancos. Levou a sua mulher, Emily, à loucura e a própria começou a consumir drogas, fazendo com que ambos se tornassem toxicodependentes.
A verdade é que o final do filme tanto pode ser inesperado como calculado, dependendo da visão do telespetador. Existem muitas consequências ao longo do drama que podem originar o seu fim, mas a forma como acabou por ser direcionado, de uma certa forma, para um fim um pouco imprevisível, deixa-nos com um ponto de interrogação na cabeça. O que será que aconteceu depois? Só nos resta a imaginação.
Contudo, se existe mérito que tem de ser dado a alguém é a Tom Holland e a Ciara Bravo. Passar do querido amigo da vizinhança Homem-Aranha e da irmã mais nova de um dos cantores da banda Big Time Rush para um casal de toxicodependentes diz muito sobre o talento de ambos. A maneira como interpretam as personagens não deixa ninguém indiferente e a preocupação que tiveram para incorporar bem as personagens fez-se notar: Holland teve de perder 12 quilos para assegurar o papel e Ciara visitou um centro de reabilitação no sítio das filmagens para entender melhor o mundo da heroína. Apesar de novos, o que se diz no mundo do cinema é que ambos transformaram estas personagens e conseguiram transmitir aos telespetadores as sensações de desespero e de angústia que Nico Walker sentiu na pele. Cherry é um drama fascinante e envolvente que nos consegue dar uma lição de vida mesmo sem sequer tentar.
Artigo redigido por Inês Policarpo
Artigo revisto por Maria Ponce Madeira
Fonte da imagem de destaque: Diário de Venusville
AUTORIA
Quando era pequena a Inês queria ser decoradora de interiores. Hoje, está a tirar uma licenciatura em Jornalismo. A vida tende a surpreendê-la, mas ela não se deixa surpreender. Curiosa, otimista e sempre disposta a ajudar, a comunicação veio dar uma nova perspetiva à vida de Inês: venha ela de que forma for, será sempre a melhor maneira de estar conectada com o mundo.