Tenho Covid-19 e não sei o que fazer. Alguma ajuda?
A minha experiência com o novo coronavírus foi algo que pôs uma barreira naquilo a que os jovens de hoje em dia chamam de liberdade. Completamente fechada no quarto durante 14 dias, em fevereiro deste ano, tive de inventar 1001 coisas para fazer, para combater a preguiça e a solidão. Acredita, sei que por vezes gostamos de nos sentir sozinhos e pensar um pouco na vida, mas não durante 14 dias. Até as paredes do quarto começam a falar contigo.
A parte pior é, sem dúvida, arranjar atividades que nos façam querer sair da cama, pois estar infetado é uma grande desculpa para passar o dia inteiro a descobrir novas séries e filmes. Não digo o contrário, aliás, se estes forem em diferentes línguas, para acabares poliglota, até te incentivo, mas existem muitas outras coisas que podes fazer para não te sentires aborrecido.
1. Iniciar uma rotina
Acredito que vais estar completamente perdido acerca daquilo a que te aconselho e a que horas o vais fazer. A minha grande ajuda foi escrever uma rotina e guiar-me por ela até poder sair do quarto: acordar sempre às mesmas horas, combinar com a minha família uma certa hora para as refeições e deitar-me a horas decentes para não dormitar no dia seguinte. Isto ajudou-me depois na minha vida fora do quarto e, passado um tempo, a rotina que tinha escrita num papel passou a fazer parte de mim e do meu dia-a-dia. Se achava que a Covid-19 só me tinha dado amor próprio, agora sei que também me deu organização.
2. Fazer exercício físico todos os dias
Vá, se calhar não vais ter energia para o fazer todos os dias, mas tenta. Fazer exercício físico não só te ajuda fisicamente, se for esse o teu propósito, como mentalmente. Estar fechado é sinónimo de não fazer rigorosamente nada, no que toca a exercício, e, se o fizeres enquanto estás fechado no teu quarto, até te ajuda a dar depois o pulo para o fazeres ao ar livre em companhia. Eu segui muito a alemã Pamela Reif, pois o conteúdo no seu canal de Youtube é do mais variado que existe. Desde hardcore a danças divertidas, com músicas animadas. Existe um pouco de tudo para todos os tipos de pessoas. Confesso que o que eu mais gostava de fazer eram as danças, pois, em dez minutos, fazias o mesmo que farias sozinho em duas horas! E acredita: vais agradecer ter feito, pois, depois de 14 dias fechado, os teus pulmões vão entrar em crise assim que tentares subir oito lances de escadas. Garanto que te vais sentir melhor e, pelo menos, uma hora do teu dia já está completa.
3. Aprender uma nova língua
Como disse na introdução deste artigo, a visualização de novas séries e filmes podem ajudar muito na tua sensibilidade às línguas estrangeiras. Se for preciso, todos os meses saem novos conteúdos em diferentes sites de diferentes idiomas. É só escolher a língua que queres aprender. Se este for o teu método de eleição, uma série que te aconselho vivamente a ver é Lupin, disponível na Netflix. Esta série é totalmente francesa, o que ajuda a ter uma maior atenção ao que está a acontecer. Se preferires aprender em sites, ou de outra maneira, também te posso ajudar: procura, na Internet, os cinquenta verbos regulares e irregulares mais comuns da língua, as cem palavras mais utilizadas e os tempos em que os verbos se utilizam mais. A partir daqui, vais conseguir elaborar várias frases e com o tempo ainda ficas poliglota!
4. Dedicar algum tempo a um hobbie
Dentro do quarto pode ser difícil arranjar um hobby mais elaborado, mas não é impossível. Podes arranjar um curso, na Internet, que já querias começar mas nunca tiveste a coragem, ou a paciência, para o fazer. Ou, ainda, podes começar uma pasta cheia de textos inspiradores, se escrever é a tua paixão. Não tenho assim um grande orgulho em dizer que o meu hobby foi estudar para as frequências que aí vinham, pois não foi divertido, mas, se este ainda for o teu caso, o facto de estares fechado é realmente algo que te vai impulsionar a fazê-lo. Na realidade, não tens outra opção senão estudar, já que são duas semanas seguidas sem nada para fazer com matéria de frequências a acumular. Contudo, também podes pedir à tua família que te dê algo que tu aches que vás gostar: colorir livros, fazer tricô, montar um puzzle... as escolhas são infinitas!
5. Organizar as gavetas
Digo gavetas pois sei que existe uma algures no teu quarto cheia de tralha que ou não é precisa ou não devia estar ali. Aproveita este tempo que tens só para ti para organizares a vida do teu quarto e dares uma nova cor às gavetas, ou poltrona cheia de roupa que nunca é arrumada, pois isto vai contribuir para a tua organização futura (espero eu). Está na hora de deitar fora os horários do quarto ano e os resumos de cidadania do sexto, pois já não precisas disso e podes substituir, com moderação, pelos teus novos resumos do teu ano escolar, ou pela tua coleção de algo que não lembra a ninguém. Como a minha mãe diz: casa arrumada, alma descansada.
6. Receber visitas
Sei que não é algo comum ou propriamente disponível para todos, o que torna este ponto um pouco mais difícil do que os outros. Existem horários e trabalhos fixos no mundo lá fora que nem sempre dão tempo para uma visita à janela, mas pedir para tentarem não custa. Eu tive a experiência de duas visitas e deram-me alegria para os 14 dias, mesmo que tenha sido na janela fechada a olhar para o alcatrão da rua onde essas mesmas visitas estavam. Sem ser assim, também podes receber visitas via online e combinar com os teus amigos, ou parceiro, uma hora para lancharem ou jantarem ao mesmo tempo e para porem a conversa em dia. Isto vai ajudar-te a manter a tua sanidade mental e foco no teu objetivo: sair do quarto sem perder a cabeça.
Espero conseguir ajudar-te a passar o tempo nesta tua nova vida de confinado, pois sei que não é a melhor fase. A preguiça, solidão e possível maluqueira vão chegar a qualquer momento, mas, com uma rotina criada, és mais propenso a deixar essas vertentes de parte e a brotar algo bonito de uma situação feia. Eu aprendi que existe alguém dentro de mim que precisa de ser cuidado e de cuidar dos outros, sem precisar de explicações ou porquês. E tu, o que queres aprender?
Fonte da Capa: The Travellight World
Revisto por Beatriz Campos
AUTORIA
Quando era pequena a Inês queria ser decoradora de interiores. Hoje, está a tirar uma licenciatura em Jornalismo. A vida tende a surpreendê-la, mas ela não se deixa surpreender. Curiosa, otimista e sempre disposta a ajudar, a comunicação veio dar uma nova perspetiva à vida de Inês: venha ela de que forma for, será sempre a melhor maneira de estar conectada com o mundo.