10 dramas que marcaram a última década
É a olhar para o futuro que se evolui. No entanto, por vezes, convém analisarmos aquilo que foi feito no passado. Todos os intervenientes na construção de um filme merecem ser analisados e valorizados e as obras-primas da última década ficarão para sempre cristalizadas na História da arte e nas nossas mentes. Posto isto, qual será o top 10 dos dramas que marcaram a última década?
Estamos em pleno século XXI e o cinema está em constante mutação e evolução. Os anos vão passando e é sempre bom carregar no botão de “pausa” e apreciar o que de bom já foi feito. Como diz uma amiga minha, “vivemos num tempo e num espaço com tanta coisa por fazer, com tanta pressão para se ser proativo, que não temos tempo para apreciar um bom filme ou conhecer mais sobre um realizador”. Tive a difícil tarefa de olhar para a última década e de escolher quais são os filmes que, na minha opinião, de uma forma ou de outra, a marcaram.
Olhei para estes dez anos e tive de abdicar de filmes que me fizeram verter lágrimas capazes de criar um rio, que me fizeram rir até ficar com dores de estômago e que mudaram a minha maneira de pensar. Só os 10 melhores à luz do meu pensamento puderam integrar esta lista. Podem perguntar-me: “Isto são os dez melhores filmes de drama ou os que marcaram mais o cinema?” ou “O que é marcar o cinema? Vendas? Classificação? Prémios?” – são perguntas (mais do que) legítimas. O meu critério é baseado no argumento puramente dramático, nas histórias mais emocionantes e marcantes, no sentido de deixar um casulo de ideias e de sensações na mente do espetador. Verdadeiras histórias contadas de formas inovadoras e que apresentam temas originais. Também se juntam ao “top 10” filmes marcados por prestações icónicas, no que ao elenco diz respeito. Sem mais demoras, aqui vamos nós.
10 – O Grande Gatsby (2013)
O filme O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, lançado em 2013, é a quarta adaptação do romance com o mesmo nome, escrito em 1925, pelo escritor norte-americano Francis Scott Key Fitzgerald.
Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio pelo seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ter sido convidado pelo milionário para uma festa incrível, a relação de ambos evolui para uma forte amizade. O filme retrata, de forma pitoresca e expressionista – quase caricatural –, os loucos anos 20. Gatbsy é o típico novo rico que foge à Lei Seca, que impedia a fabricação e comercialização de bebidas alcoólicas. Gatsby ganha dinheiro suficiente para ascender rapidamente às categorias mais altas da sociedade e conseguir fugir a um passado desafortunado.
9 – Bohemian Rhapsody (2018)
Um filme autobiográfico sobre os Queen, uma das maiores bandas de rock de sempre. Apesar de ter Freddie Mercury como foco principal, é apresentada a amizade entre os seus elementos e as circunstâncias que os tornaram verdadeiros ícones do panorama musical da época. Rami Malek faz uma interpretação plena e completa do vocalista, quer no plano estético e da linguagem corporal, quer na forma de falar e, como seria de esperar, de agir. Este filme teve o peso de ser um dos mais aguardados no registo drama/biográfico e não desiludiu. O que eleva este filme ao patamar máximo e ao estatuto de 9º melhor drama da década é o facto de ainda ter superado as expetativas que, por sinal, estavam altíssimas.
8 – Doze Anos Escravo (2013)
Doze Anos Escravo, de Solomon Northup, narra a história de vida do autor, como um homem negro livre do Norte que foi sequestrado e vendido como escravo no Sul pré-Guerra Civil. “Doze anos escravo” apresenta um relato surpreendentemente preciso e verificável da experiência de escravo comum nos Estados Unidos, no Sul (pré-guerra civil). Do início ao fim, factos básicos sobre o tempo, os lugares, as pessoas e as práticas do dia são incorporados, às vezes, em profundo detalhe, na história de Northup. Este foi um dos filmes que mais me prendeu e emocionou na última década e merece o seu 8º honroso lugar.
7 – Interstellar (2014)
Após ver a Terra a consumir boa parte das suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar os possíveis planetas capazes de receber a população mundial, possibilitando a continuidade da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão, sabendo que pode nunca mais voltar a ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), a personagem principal seguirá em busca de uma nova casa. Com o passar dos anos, a sua filha, Murph (interpretada primeiro por Mackenzie Foy e, mais tarde, por Jessica Chastain ), investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta.
Há algo puro e poderoso neste filme de Christopher Nolan. É um verdadeiro passatempo ver, rever e ver novamente esta obra-prima de drama e de ficção científica. Um filme ao estilo Nolan. O que faz um grande realizador é manter a imagem de marca que lhe é característica e facilmente identificável, enquanto não deixa de surpreender – e, neste caso, a previsibilidade estilística é rompida com uma história diferente, naquele que se revelou um dos maiores trabalhos da carreira de Nolan.
6 – Whiplash (2014)
Andrew Neiman (Miles Teller) é um ambicioso jovem baterista de jazz, em busca de chegar ao topo do conservatório de música de elite. Terence Fletcher (J.K. Simmons, que faz um papel formidável), um instrutor conhecido pelos seus métodos de ensino aterrorizantes, descobre Andrew e transfere o aspirante a baterista para o melhor conjunto de jazz da cidade, mudando para sempre a vida do petiz. No entanto, a paixão de Andrew pelo facto de atingir a perfeição rapidamente se transforma em obsessão, à medida que o seu professor implacável o empurra ao limite da sua capacidade e sanidade.
Damien Chazelle consegue transportar-nos para o sentimento da dor física e psicológica do jovem Andrew, para as feridas nas mãos, o suor na testa e a pressão máxima imposta e autoimposta. Qualquer crítico de cinema, por muito exigente que seja, não consegue fugir aos factos: Whiplash é um marco não só da década, mas do séc. XXI.
5 – Joker (2019)
Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é palhaço de profissão. Vive sozinho com a mãe. Sonha ser comediante. Gotham é uma cidade de caos e confusão que ignora os solitários. Arthur sente-se assim, até conhecer a sensação de ser visto pela primeira vez. A maioria olha para o Joker apenas como o vilão do Batman; o palhaço que gosta de rir, dançar e matar pessoas em Gotham City. É o assassino excêntrico, aquele meio tresloucado que é amante do caos. Foi assim com Jack Nicholson, Mark Hammill, Jared Leto e Heath Ledger.
A vitória do filme de Todd Phillips passa por surpreender, mostrando um Joker humano, clinicamente perturbado, com um caráter mais obscuro e desamparado do que qualquer outro. O filme é mais sobre Arthur, o homem solitário carregado de camadas e camadas de complexidade que vai encontrar uma vocação no caos. Neste filme, o foco está em Arthur que, em vez de vilão, é agora o anti-herói, com os seus defeitos e qualidades. Não é mau nem bom, nem normal nem anormal – é como é e não poderia ser de outra forma. A vida levou-o a este ponto de partida e deu-lhe o destino que deu.
No que à minha opinião pessoal diz respeito, posso dizer que, sem margem para dúvidas, este novo Joker marcou a minha vida.
4 – O Lobo de Wall Street (2013)
O Sr. Jordan Belfort, nascido no seio de uma família de classe média e criado em Queens, tentou e não conseguiu infiltrar-se em Wall Street da forma mais tradicional. A sua experiência como corretor de bolsa foi curta devido à crise de 87 e o crash obrigou Belfort a começar por si mesmo – por isso, fundou a Stratton Oakmont, para ganhar a confiança dos investidores da classe média e trabalhadora.
A obra-prima de um dos melhores realizadores da História, Martin Scorsese, é centrada na vida boémia, excêntrica, de ostentação, luxo, pecado e crime de Jordan Belfort. Os ângulos de gravação, os pormenores, as excelentes participações de Jonah Hill, Matthew McConaughey, Margot Robbie, Leonardo Dicaprio tornam o filme altamente viciante a apetecível. Não contem a ninguém – podem não acreditar – mas já o vi 24 vezes.
3 – Parasitas (2019)
“Ainda não sei bem o que me acertou”. É este o sentimento de uma pessoa que acaba de ver esta obra-prima sul-coreana. Um verdadeiro drama, uma história contada de uma forma a que a maioria dos ocidentais não está habituada. “Parasitas”, de Bong Joon-ho, foi justamente eleito e galardoado com o prémio de melhor filme do ano – brilhantemente imprevisível e cativante.
A película dá uma chapada de luva branca a quem não anda atento às produções asiáticas. Estão de parabéns por romperem o preconceito e contarem uma verdadeira história. Este filme é uma real obra-prima, no sentido em que ficará eternizada no compêndio e dicionário ilustrativos do cinema. É, sem qualquer dúvida, merecedor de ser autopsiado de uma ponta à outra nas escolas de cinema.
2 – Ilha do Medo (2010)
Estamos em 1954 e dois detetives são designados para investigar o desaparecimento de uma criança assassinada (Emily Mortimer). Os dois detetives mudam-se para um hospício numa ilha isolada para tentar resolver o caso com o auxílio das autoridades locais e com os funcionários do hospício. A certa altura, parece não haver maneira de deixar a ilha com vida. Uma história intrigante do estilo policial que leva Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aula (Mark Ruffalo) a questionarem a autoridade do Dr. Cawley, interpretado por Ben Kingsley, com aquele encanto proibitivo que ele domina.
Martin Scorsese desmonta a realidade, peça por peça. Flashbacks sugerem os traumas de Teddy, desde a Segunda Guerra Mundial, num estilo Noir clássico. O termo “síndrome do choque pós-traumático” ainda não era usado, mas os sintomas podiam ser vistos e identificados. Leonardo Dicaprio faz uma das atuações mais brilhantes do seu percurso como ator: um homem atormentado e preso num labirinto de memórias nas quais não pode confiar. A Ilha do Medo é o filme ideal para quem quer ser surpreendido e para quem gosta de ser confundido num universo abstrato. Segundo lugar para este trabalho fenomenal.
1 – O Clube de Dallas (2013)
Ron Woodroof, um eletricista de Dallas, foi diagnosticado com HIV em 1986, durante uma das épocas mais obscuras da doença. O filme realizado por Jean-Marc Vallée revela-nos a realidade sulista norte-americana – focando temas como o rodeo, a homofobia e o preconceito. Ron, interpretado de forma exímia por Matthew McConaughey, surge como uma personagem sem estudos, igualmente preconceituosa, com uma vida marcada por drogas e promiscuidade sexual. Terá de enfrentar toda uma comunidade que associa a HIV à homossexualidade e que, por isso, se vira contra ele.
A resposta de Ron é a menos expectável: usar os conhecimentos que obtém ao longo da sua jornada para triunfar e atingir os seus objetivos. Embora os médicos lhe tenham dado apenas alguns meses de vida, Woodroof recusa-se a aceitar o prognóstico e, procurando tratamentos alternativos, passa a contrabandear drogas ilegais do México. Pelo meio há uma atuação emocionante e aterradora de Jared Leto, que faz um papel memorável. O primeiro lugar vai para o melhor drama da última década.
Não consigo escrever sobre todos os grandes filmes destes dez anos, mas quero ainda deixar as menções honrosas aos seguintes trabalhos no registo do drama: Birdman; Django; The Grand Budapest Hotel; The Irishman; Inception e Os Agentes do Destino.
Artigo redigido por Gonçalo Borbinha
Artigo revisto por Bruna Gonçalves
Fonte da imagem de destaque: Pixabay
AUTORIA
O meu sonho, para além de conseguir aprender a jogar xadrez, é tornar-me num homem dos sete ofícios da área da comunicação. Para além do jornalismo, tenho um fascínio enorme pelo entretenimento, representação, guionismo, realização e literatura. O cinema é a forma de expressão artística que mais me agita, juntar-lhe a escrita é aliar ao entusiasmo tresloucado um cubo de gelo refrescante e ponderado: o meu ying yang.