All In Fest: o primeiro festival queer da escs
No passado dia 9 de junho as cores do arco-íris invadiram a ESCS, que acolheu seu primeiro festival queer – o All In ESCS. Organizado pelo nAV, Núcleo de Audiovisual, em colaboração com todos os restantes núcleos e também com a Associação de Estudantes, este festival teve como objetivo homenagear a comunidade LGBTQIA+, um sonho da diretora do departamento de design, Mariana Figueira, que não disfarçou a felicidade ao vê-lo realizado: “É muito importante para nós ter algo como este festival”.
Iniciou-se o festival com o Stand-Up Show da Luana do Bem, humorista e apresentadora do Curto Circuito, na SIC Radical, que arrancou muitas gargalhadas e trouxe assuntos relacionados com o ponto central do festival: o “sair do armário”, a relação com a sua namorada e até os estereótipos associados às relações lésbicas.
A talk que se seguiu, moderada pela ESCS Magazine e pela ESCS FM, contou com quatro convidados: Carolina Ataíde, presidente do Girl Up ISCAL; Andréa Freire, Co-Fundadora da Colombiana Clandestina, um coletivo ativista que associa a expressão livre do Carnaval a projetos de cariz social, como a luta feminista; Andreo Gustavo, CEO do Projeto TransParente, a primeira plataforma portuguesa direcionada para a inclusão da diversidade sexual e de género, orador, palestrante e autor do livro Começa de vez; e João Pedro Anjos, ativista, blogger e autor do livro A vida são 60 segundos, conhecido por levantar a bandeira LGBT numa manifestação do CHEGA, em 2020.
Entre os temas falados estiveram a linguagem inclusiva, assuntos como a idade em que se deve começar a falar de questões relacionadas com a comunidade LGBT, o aborto e os conhecimentos dos profissionais de saúde nas questões de mudança de sexo.
A linguagem inclusiva foi o primeiro tema, com o intuito de perceber as alterações necessárias para que a língua portuguesa se torne mais inclusiva.
Como é do conhecimento geral, a mudança é um desafio que exige esforço,“é estar sempre a aprender”, afirmou Andréa Freire. Quanto mais cedo se começar a utilizar este tipo de linguagem, mais facilmente se incluirá no dia a dia de cada um de nós, ainda para mais numa sociedade em que o género está enraizado desde sempre.
Também quanto à idade para introduzir o tema da comunidade LGBT nas crianças se considera que deve ser o mais cedo possível, ainda antes do 5º ano, mas com algumas adaptações, pois “as crianças não têm noção do que é o género, a não ser que lhes seja imposto”, afirmou Andreo Gustavo. Seguindo a mesma linha de raciocínio, João Pedro Anjos foi mais longe, sugerindo que “deveria haver uma disciplina que ensine a ter empatia, a lidar com outras culturas e opções sexuais”.
Foram-se inserindo temas polémicos, como a mais recente questão da penalização dos médicos com pacientes que abortassem. A opinião de todos foi unânime: é um absurdo. Andréa Freire afirmou ser “absurdo, no ano em que estamos, ainda falarmos de coisas tão ‘pequenas’ como uma mulher ter direito de fazer o que lhe apetece com o seu corpo” e que “o corpo da mulher não é um assunto”.
Toda esta questão mostra-nos o quão efémeros são os direitos conquistados e o porquê de ser preciso que se realizem marchas e manifestações, pois vivemos sob um “patriarcado que tem em si o sentimento de impunidade e superioridade que acha que pode retirar direitos”, como afirmou Carolina Ataíde, completando o que já havia sido dito por Andréa.
Ainda na área da saúde, fez-se uma questão: afinal, estará, ou não, o Sistema Nacional de Saúde, bem como os seus profissionais, instruídos em relação a questões LGBT? Todos os convidados mostraram que sentiam que havia algo mais a fazer, que eram necessárias formações e abrir mentes. Nunca um enfermeiro, médico ou auxiliar de saúde deveria ter a mente fechada. Além disso, tanto João, como Carolina e Andreo afirmaram que ainda há muita desinformação por parte dos profissionais de saúde, seja em questões trans, ou numa questão tão banal como a proteção para o sexo oral feminino ( em Portugal não há sequer meios de proteção disponíveis para esta prática!).
Por último, para concluir todos os temas abordados e refletir sobre o futuro, os convidados expressaram o que é para si a maior urgência no momento. Para Andréa, o fim do patriarcado significará o fim da violência que existe no sistema em que estamos inseridos e no qual é impossível lutarmos sozinhos. Já Carolina Ataíde destaca a necessidade da aplicação das leis para lá do papel e de uma educação inclusiva como ponto de partida para “começar uma revolução dentro de casa – educação familiar, dinâmica familiar inclusiva e aulas de educação sexual inclusivas”. Andreo decidiu basear a sua resposta em duas perguntas que todos devemos fazer a nós mesmos: “Estou a respeitar a diversidade? Estou a incluir a maior parte das pessoas?”, e rematando com “O que faz falta à população jovem é não se esquecer daquilo que já foi feito até hoje, pois não está tudo garantido”.
O evento continuou noite adentro com um dinner break e uma after party que contou com a presença de muita música, orgulho LGBT e um incrível drag queen show.
Fonte da capa: Número F
Artigo revisto por João Nuno Sousa
AUTORIA
Luísa Montez é redatora da ESCS Magazine desde novembro de 2020, tendo começado por escrever apenas para a secção de Moda e Lifestyle. Após o sucesso do seu artigo escrito, excecionalmente, para a secção de Grande Entrevista e Reportagem, decidiu aceitar o convite e fazer parte da mesma. Antes de entrar na ESCS já sabia que queria pertencer à revista, pois a escrita é um dos seus pontos fortes.
Todos os artigos têm o meu toque pessoal, de modo a criar uma relação de proximidade com o leitor e para que se perceba que quem escreve é igual a quem lê. Tento ao escrever direcionar-me a todos, no geral, mostrando que um artigo de moda e lifestyle pode ser lido por todos os que o desejem. O mundo ainda é retrógrado sobre determinados temas, que nem o deviam ser, e gostava que pudéssemos um dia dar as mãos, no sentido de nos unirmos ainda mais para que vivêssemos sem conflitos e com paz.