O génio diferente de Eddie Van Halen
No passado dia 6 de outubro, o mundo da música perdeu um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Eddie Van Halen, como anunciou a sua família, faleceu com 65 anos após lutar contra um cancro na garganta. A mensagem deixada pelo filho, Wolfgang, na sua conta do Instagram, partiu o coração não apenas dos fãs dos Van Halen como de uma imensidão de artistas com quem colaborou.
“Não acredito que estou a escrever isto: o meu pai, Edward Lodewijk Van Halen, perdeu a longa e dura batalha contra o cancro nesta manhã. Foi o melhor pai que eu um dia poderia ter. Todos os momentos que compartilhei com ele – dentro e fora dos palcos – foram um autêntico presente. O meu coração está despedaçado e não acredito que um dia consiga recuperar desta perda. Amo-te muito, pai“. @wolfvanhalen via Instagram
Músico desde muito novo, tal como o pai, Eddie conquistou o mundo da música ao lado do irmão baterista, Alex. Ao talento e carisma de ambos juntaram-se os enormes músicos David Lee Roth, vocalista, e Michael Anthony, no baixo.
A música deste conjunto revolucionou não só o hard rock e o glam metal, mas toda a abordagem que, até então, se tinha sobre a construção de uma melodia. A perceção rítmica da banda era perfeitamente equilibrada – com os intensos e agudos vocais de David Lee Roth. Este tinha palco para levar a sua voz ao extremo, por exemplo, quando os backing vocals, numa completa harmonia, repetiam as letras catchy.
O brilho das linhas da guitarra de Eddie Van Halen abre a porta para toda uma nova dimensão. A sua arte é dotada de uma complexidade que o eleva ao nível dos mais avançados artistas de música clássica, com a sonoridade revolucionária do género do rock. Ainda que inovadores, os riffs de Eddie não são nada “de se estranhar” e refletem uma simpatia extrema – idêntica àquela que o público, em cada atuação, consegue percecionar através do seu sorriso.
No Twitter, Nikki Sixx, dos Motley Crue, comentou a morte do artista e deu ênfase a uma perspetiva curiosa sobre a arte de Eddie: “Mudaste o nosso mundo. Foste o Mozart do rock guitar. Boa viagem, rockstar.”
No fundo, tanto as notas de tristeza como as de contínua admiração marcaram o universo musical após a morte do artista – considerado um autêntico fenómeno para múltiplas gerações de artistas e um pilar essencial para que tenhamos o rock e o pop dos dias de hoje. Na mensagem por si publicada, Keith Urban, músico neozelandês, enfatizou essa típica inovação de Eddie:
“Há muitos guitarristas ótimos no mundo, mas poucos são verdadeiros inovadores. Guitarristas que parecem ter vindo de um planeta muito distante e que trazem uma cor completamente nova ao arco-íris. Eddie Van Halen era isso e muito mais. Mesmo sem a técnica do finger tapping, era um guitarrista com “toque”, tom e ritmo extraordinários. Era mestre de solos complexos, que chegavam de forma única até aos não-músicos.”
O finger tapping, mencionado por Urban, é uma técnica muito utilizada por Eddie, ao longo da sua extensa discografia – mas que, na verdade, tem origem na música clássica, com o violinista Paganini. Músicas que marcaram a carreira de Eddie para sempre, como Women In Love, traziam esta forma tão diferente de tirar “as notas da guitarra”.
Não podemos pensar em Eddie Van Halen ou em finger tapping sem mencionar uma das suas mais ilustres obras de arte: Eruption – cerca de 1 minuto e 40 segundos de puro conteúdo genial do guitarrista holandês. Há diferentes níveis de técnicas por detrás da histórica faixa dos Van Halen. Mas, de forma resumida, a explicação passa pelo mencionado por Urban: uma melodia que flui da alma de Eddie para as suas, por ele personalizadas, guitarras.
Sim, guitarras personalizadas! Um dos fatores que o põem no hall da história da música é a sua incansável vontade não só de melhorar a sua técnica como de adaptar os seus materiais. Insatisfeito com os instrumentos Gibson e Fender que tinha, criou a sua própria guitarra.
O híbrido por ele construído deu origem às superstrats – toda uma nova linha de guitarras responsável pelo som único que se ouve, por exemplo, nos álbuns Van Halen, Van Halen II, Fair Warning e 1984 – onde se concentram grandes faixas, como é o caso de Running With the Devil, Drop Dead Legs e Mean Street. O próprio visual da guitarra de Eddie é algo bastante próprio, com uma estampa que se repetiu nas roupas que usava em palco.
Cathedral, do álbum Diver Down dos Van Halen, é outra daquelas músicas onde podemos encontrar uma boa dose daquilo que é uma melodia de Eddie. Ouvir um álbum dos Van Halen é embarcar numa viagem em que o ritmo e o estilo nunca falham. Uma constante que se repetia no palco, com a dedicação do grupo para manter a energia o mais alta possível.
Artigo revisto por Bruna Gonçalves
AUTORIA
Michelle tem 20 anos e faz muitas perguntas desde que se conhece por gente. Criou o primeiro site numas férias de verão enquanto criança e apaixonou-se por escrita e fotografia. Algum tempo e vôos internacionais depois, entrou em Jornalismo na ESCS, a escolha acertada para si. Não limita os seus assuntos, secções e cantinhos a visitar. Teve na Magazine um megafone enquanto Editora de Opinião.