Sócrates abandona o PS
Caso de Manuel Pinho levou a uma discussão no partido, o que forçou uma tomada de posição do antigo Primeiro Ministro. Notáveis do PS estão divididos. António Costa diz-se surpreendido.
José Sócrates anunciou num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias que vai abandonar o PS. A decisão acontece após vários militantes socialistas, terem quebrado o silêncio e considerado uma “vergonha” e uma “desonra” as suspeitas que recaem sobre o ex-primeiro-ministro e sobre Manuel Pinho, ex-ministro da Economia, que é suspeito de receber um vencimento privado com origem no GES (Grupo Espírito Santos) enquanto desempenhava as funções de ministro no governo socialista.
O ex-primeiro ministro defende Pinho considerando-o um “homem honesto, incapaz de receber um vencimento privado enquanto exercia funções públicas.” Sócrates vai mais longe e desmente que Manuel Pinho tenha entrado para o seu Governo por sugestão de Ricardo Salgado. A escolha de “Manuel Pinho como porta-voz do PS para a área da economia, e mais tarde para o Governo, aconteceu naturalmente na decorrência da colaboração que este há muito prestava na condição de independente, ao PS, como conselheiro económico, do então líder Ferro Rodrigues”, defendeu.
Sócrates aproveitou o artigo de opinião para acusar a atual direção do PS de “cometer uma injustiça, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, algo que ultrapassou os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. No mesmo artigo considera que chegou o momento de por um ponto final “num embaraço mutuo” e confirma que endereçou uma carta ao partido Socialista a pedir a sua desfiliação.
Em resposta ao alvoroço dos últimos dias, alguns notáveis mostram uma divisão interna no partido em relação às críticas endereçadas aos antigos governantes socialistas. Ana Gomes defende a tomada de posição de figuras como Carlos César ou João Galamba, que desmarcaram o partido dos casos de investigação que envolvem Sócrates e Pinho e diz ser “tempo de reconhecer os erros, porque toda esta situação leva a uma descredibilização do partido”. A eurodeputada socialista diz que é tempo de “analisar o que não correu bem e que a tolerância perante a corrupção tem de ser zero”. O anterior ministro da Cultura, João Soares indica que é “com grande tristeza” que vê a desfiliação de Sócrates e refere que o antigo secretário geral socialista “não foi tratado com a dignidade devida enquanto arguido”. Já o histórico fundador do partido Socialista, António Campos vai mais longe e refere que se “sente revoltado com o tratamento dado pelo partido a Sócrates” referindo-o como “injusto”.
O Primeiro Ministro, António Costa, revelou-se “surpreendido” com a decisão de José Sócrates indicando que “respeita uma decisão que é pessoal”. Costa aproveitou para reforçar que “tem todos os motivos para confiar no sistema de justiça e no estado de direito” referindo-se à operação Marquês que envolve suspeitas de corrupção do ex-primeiro Ministro.
De referir que o PS vai, entre 25 a 27 de Maio, ter um congresso para discutir o seu plano para as legislativas de 2019, contudo os casos de Manuel Pinho e José Sócrates antecipam um intenso debate. O histórico socialista Manuel Alegre referiu mesmo que o partido “vai ter de debater o caso no congresso” mostrando-se surpreendido com a tomada de posição do PS.
AUTORIA
Olá, sou o Luís, tenho 27 anos e nasci em Cascais. Vivo desde, quase sempre, em Sintra e sinto-me um Sintrense de gema. Adoro cinema - bem, adorar não é a palavra adequada, venerar parece-me um adjetivo mais justo - e sou também obcecado por política e relações internacionais. Gosto também muito de desporto.