Cinema e Televisão

Alita: um filme chato

O novo filme de Robert Rodriguez é um interminável bocejo. A tentativa de conversão de um cyborg numa espécie de pinocchio dos tempos modernos é frustrante. Vale a pena ressalvar o impacto visual cuidado, mas isso não salva o filme.

Fonte IMDB

Num futuro distópico, depois de uma guerra sem precedentes que quase extinguiu a raça humana, numa Terra desoladora, visualmente muito bem conseguida. A personagem principal é uma jovem ciborgue de nome Alita (Rosa Salazar) que um dia é encontrada em pedaços por Dyson Ido (Christopher Waltz) numa lixeira. Dyson, que é cientista, leva Alita para o seu laboratório e reconstrói-lhe o corpo cyborg. Alita rapidamente percebe que tem uma aptidão incomum para as artes marciais, uma tentativa de inspiração em “Kill Bill”, tanto na tentativa de produzir o “One Women Show” como nas cenas de luta ao longo do filme. No decorrer do filme, Alita descobre um conflito interior que a leva a procurar respostas sobre o seu passado. Este é o resumo do Filme de Robert Rodríguez, o homem que irrompeu pelo cinema com a célebre trilogia mexicana (El Mariachi, Desperado e Era uma vez no México) e que se consagrou com Sin City, filme que talvez tenha emulado toda a obsessão de Hollywood pelo tema dos super-heróis. Neste seu novo filme, produzido por James Cameron e Jon Laudau e com um argumento inspirado na banda desenhada “Battle Angel Alita” do japonês Yukito Kishiro, Rodríguez tenta abordar um tema futurista e pegar na comunidade Manga de forma a garantir o sucesso.

Robert Rodriguez, Fonte IMDB, foto de Dimitrios Kambouris – © 2018 Getty Images

Mas o que tem “Alita” de errado? Quase tudo: primeiro a abordagem do filme, que nos tenta estimular com cenas de ação, algumas inspiradas por “Kill Bill” de Tarantino (velho conhecido de Rodriguez), são um interminável bocejo, uma perda de tempo, uma falta de respeito pelas normas de cinema que Rodriguez teve no passado. Em quase nada podemos comparar o filme com “Kill Bill”, fica-se pela inspiração, mas não a concretiza, fazendo dessas cenas algo chato e pastoso. Depois toda a conceção narrativa, inspirada na estória de Pinocchio, é em nada conseguida, desligando o espetador da mesma, com vários momentos a roçar o ridículo e com uma tentativa de abordar o drama que soa a falso. Já para não falar no final que abre caminho a uma sequência, um “clássico” dos grandes estúdios que atualmente veem o cinema como uma forma rápida e preguiçosa de fazer dinheiro, não é que no passado fosse diferente mas figuras míticas como Huston, Chaplin na sua era muda ou Coppola (com a trilogia do Padrinho) impunham uma visão diferente, inovadora para a época com uma elevação que lhes permitiu o estatuto de clássicos. É raro o filme de hoje que envolva estórias de ação ou super-heróis que não deixe no ar uma possível sequência, levando o cinema americano ao caricato e a “filmes” que não são bem “filmes” mas sim mais campanhas de marketing com um forte apelo visual e com pouco de inovador e inspirador.

Acabamos por sair da sala de cinema com uma enorme desilusão e com pouca vontade de espreitar o que vai ser a mais que provável continuidade de “Alita”, o que nos deixa uma enorme frustração, mas que levará o seu estúdio a arrecadar uns bons milhões.

Artigo Escrito por Luís Carvalho

Artigo revisto por Ana Rita Curtinha

AUTORIA

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Olá, sou o Luís, tenho 27 anos e nasci em Cascais. Vivo desde, quase sempre, em Sintra e sinto-me um Sintrense de gema.  Adoro cinema - bem, adorar não é a palavra adequada, venerar parece-me um adjetivo mais justo -  e sou também obcecado por política e relações internacionais. Gosto também muito de desporto.