Leopardo ou uma maneira de conseguir a imortalidade
O filme de Luchino Visconti é uma das grandes obras-primas da história do cinema, nele tudo é praticamente perfeito. A história da família Garibaldi é poesia em movimento. E Burt Lancaster tem uma das maiores atuações no ecrã.
Talvez a primeira coisa que venha à memória do espectador quando mencionam o filme O Leopardo, para quem o conhece, seja a memorável encenação do baile, na qual a dança e o cinema se misturam, transformando-se em algo majestoso. A música (com uma enorme influência da ópera que Visconti sempre amou e da música de Verdi) é o elemento central na definição de toda essa cena que ficou guardada como um clássico. Mas há que prestar atenção, não só a essa cena, mas sim a todo o filme, porque tudo é praticamente perfeito nele. O filme de 1963 aborda um período histórico da reunificação Italiana, impulsionada por Garibaldi. D. Fabrizio, interpretado de forma impressionante por Burt Lancaster. Garibaldi. D. Fabrizio é um aristocrata que tenta manter o seu modo de vida, apesar da mudança que opera em terras italianas, e para quem a ascensão da burguesia é uma ameaça ao seu estatuto. Num movimento ousado e hábil, o aristocrata planeia um casamento combinado entre o seu sobrinho Tancredo, interpretado por Alain Delon, um dos atores fetiche de Visconti (vemo-lo anteriormente em Rocco e os seus irmãos de 1960), e Angélica, interpretada pela diva do cinema italiano Cláudia Cardinale, filha de um rico Burguês. Com esta “movimentação” D. Fabrizio tenta manter viva a sua influência.
O que dizer da atuação de Burt Lancaster no papel de D. Fabrizio? É uma sublime demonstração de um grande poder de controlo emocional nas cenas, magnânimo. Funde a arte da representação com a poesia, como naquela magnífica cena em que Fabrizio se olha ao espelho em lágrimas.
O filme marcou imenso a carreira de Lancaster, que admitiu numa entrevista em 1963 que Visconti foi “o melhor realizador com quem trabalhou”, indicando-o como “alguém que comunicava e entendia os valores da representação melhor do que qualquer outro”. Na mesma entrevista, Burt Lancaster afirmou que se identificou “com o conceito intelectual da estória de Lampedusa graças à ajuda de Visconti” que o ajudou a perceber “características italianas e sicilianas de comportamento” que lhe serviriam de base na criação da sua personagem. Foi uma das grandes atuações da História do cinema. E Cláudia Cardinale? Fantástica. É divina na sua interação com Deloin e Lancaster. Este foi o papel de uma vida da Diva Italiana.
Scorsese indicou que O Leopardo foi um dos cinco filmes com os quais mais aprendeu, pondo-o ao lado de outros “Monstros”, como The Searchers, de John Ford (1956), ou Citizen Kane (1941), considerada a Magnum Opus de Orson Welles. Outros realizadores, como Woddy Allen ou o ensaísta João Bénard da Costa, não escondem a influência do legado de Visconti na forma como abordam o cinema. A sua importância no neorrealismo Italiano é indesmentível.
O Leopardo é uma das obras mais marcantes da história do cinema. Ganhou o Palma de ouro em Cannes, o que lhe aumentou o sucesso. É um filme sobre a vida e sobre toda uma Itália em construção. Está ao lado de 8 ½ do genial Fellini ou de um dos precursores do Neorrealismo – Ladrões de Bicicletas, de De Sica, um dos maiores filmes italianos de sempre. Mas cingir tamanha obra-prima a Itália seria um crime contra o cinema, por isso, é impossível não considerar O Leopardo um dos grandes filmes de sempre. Voltar a ele é uma obrigação.
Artigo revisto por Sara Tomé
AUTORIA
Olá, sou o Luís, tenho 27 anos e nasci em Cascais. Vivo desde, quase sempre, em Sintra e sinto-me um Sintrense de gema. Adoro cinema - bem, adorar não é a palavra adequada, venerar parece-me um adjetivo mais justo - e sou também obcecado por política e relações internacionais. Gosto também muito de desporto.