Filmes para uma vida
Há filmes que nos marcam e que, por algum motivo que muitas vezes desconhecemos, passam o teste do tempo e se tornam em Clássicos. Na lista que se segue prometemos que não haverá “vingadores” ou “ressacados”: ela tem por base um gosto próprio.
Citizen Kane
A demonstração mais poderosa da História do cinema. Ultrapassa uma só arte: fundiu-se com a História da cultura para ser um mito. Obra-prima absoluta, o filme de Orson Welles é obrigatório pela sua inovação no posicionamento de câmaras, complexidade da narrativa e o inesquecível “One Man Show” de Welles, que o posicionou como um dos maiores artistas do século XX. Citizen Kane é toda uma obra de memória e de encaixe dessa mesma memória – poderosos flashbacks anunciavam uma nova complexidade narrativa, uma nova forma de transmitir uma estória – numa espécie de “caixa maldita” de onde não fogem os pensamentos; onde tudo é reproduzido. A memória como nossa grande confidente, como nosso grande infortúnio.
La Strada
A obra escondida do gigante Federico Fellini. Muitas vezes preterida em favor de outros grandes filmes do italiano como Amarcord ou La Dolce Vita. La Strada é um dos mais bonitos “monumentos” do neo-realismo italiano e de todo o cinema. A interpretação de Anthony Quinn no papel do memorável Zampano leva o espectador a uma emoção difícil de explicar.
O Leopardo
O grande filme de Luchino Visconti, só isso garante ao O Leopardo um estatuto monstruoso no cinema. Com cenas que questionam a arte como na magnífica cena do baile ou quando Burt Lancaster verte uma lágrima em frente ao um espelho que demonstra uma humanidade comovente. O papel de Lancaster é memorável. É uma sublime demonstração de um grande poder de controlo emocional nas cenas, magnânimo. Funde a arte da representação com a poesia. Obviamente indispensável em qualquer lista de filmes a ver.
Toiro Enraivecido
Talvez o melhor filme dos últimos quarenta anos. Martin Scorsese resgatado das trevas e da depressão por Robert De Niro numa parceria que já tinha deixado um marco indesmentível em Taxi Driver, mas que atinge o pináculo neste filme de 1980. É o papel da vida de De Niro, que tem junto com Joe Pesci uma das melhores interpretações de sempre.
O Padrinho
O filme mais conhecido da lista. Marco incontornável da cultura popular. O livro de Mário Puzo, com o mesmo nome e lançado primeiro, revestiu-se de uma enorme popularidade, mas o filme ultrapassou e bem o frenesim do livro. Extraordinária realização de Francis Ford Coppola. Viria a dar lugar à trilogia mais bem conseguida do cinema americano e consequência ou não uma das mais premiadas de sempre.
8 ½
O segundo de Federico Fellini na lista, baseado num autorretrato surrealista. Fruto de uma crise de inspiração do lendário realizador após o sucesso gigante de La Dolce Vita. Tem a entrada mais bonita da história do cinema e uma atuação soberba de Marcello Mastroianni. Um misto de cenas oníricas carregadas de surrealismo com momentos hilariantes de um ilusionista que desespera com o tempo a passar.
Fanny e Alexander
Qualquer lista de clássicos tem a obrigatoriedade da presença de Ingmar Bergman. O difícil é fazer uma escolha: Sétimo Selo, Morangos Silvestres, Cenas de um Casamento ou Lágrimas e Suspiros, que podiam facilmente estar presentes; o que prova a força de Bergman. Fanny e Alexander é carregado de um desespero assustador, um misto de terror psicológico com o drama. É um dos obrigatórios. É genial em todos os momentos.
O segredo de um cuscuz
O grande filme, até agora, deste século. Um dos expoentes máximos do cinema francês não é percursor de nenhuma nova tendência do cinema, como O Acossado de Godard, mas é um dos mais bonitos filmes do cinema Francês. Coincide com a consagração de Abdellatif Kechiche como um dos grandes. Incrivelmente simples, mas inesgotavelmente belo.
Ladrões de Bicicletas
Muitos cineastas consideram-no o filme mais marcante do Neorealismo, outros põem-no no topo da filmografia mundial. A obra de De Sica é um precioso fresco de época de uma Itália em ruínas. É uma das mais bonitas demonstrações da relação Pai e Filho no grande ecrã. Uma emocionante viagem por uma peregrinação trágica à condição humana.
Couraçado Potemkin
O filme mais antigo da lista. Esteio do cinema russo, e uma obra prima de Serguei Eisenstein, inovador para a época na sua montagem e nas cenas ousadas. Encomendado pelo regime soviético, não perde uma essência que balança entre a crueldade humana – como na cena da escadaria em Odessa onde os raios de luz são substituídos pela monstruosidade banhada a sangue – e a bondade. É um filme de revolta tanto a nível social como no âmbito cinematográfico.
Artigo revisto por Daniela Costa
AUTORIA
Olá, sou o Luís, tenho 27 anos e nasci em Cascais. Vivo desde, quase sempre, em Sintra e sinto-me um Sintrense de gema. Adoro cinema - bem, adorar não é a palavra adequada, venerar parece-me um adjetivo mais justo - e sou também obcecado por política e relações internacionais. Gosto também muito de desporto.